A Liga deverá engordar para 18 clubes, mas havia um plano de emagrecimento com rabo de fora
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É impressão minha ou, no final da Assembleia Geral (AG), o presidente da Liga conseguiu declarar-se orgulhoso por ter provado que esticar um campeonato para 18 clubes é bom e viável ao mesmo tempo que lamentava, de forma polida, a rejeição de uma proposta revolucionária de mudança suportada exatamente no contrário? Dir-me-ão que não era bem o contrário, porque essa proposta tinha os mesmos 18 clubes, com o detalhe de estarem separados em dois grupos sem designação ainda conhecida: seria I Divisão e I Divisãozinha?
No plano, a redução aparecia disfarçada numa divisão semântica e, para quem se entreteve a ver os quadros, havia ainda umas setinhas a fazer de conta que entre aquela espécie de Liga dos Campeões e Liga Europa à escala portuguesa estava garantida uma dinâmica democrática capaz de fazer de conta que ninguém seria excluído. Não será preciso tirar um curso, e muito menos pagar 20 mil euros, para se chegar à conclusão de que com mais jogos entre equipas mais fortes talvez se consiga gerar mais atenção e, eventualmente, mais receitas para dividir... entre eles. Notável talvez seja querer compatibilizar essa ideia com a imagem de defensor dos clubes modestos e oprimidos.
Em jeito de rescaldo da AG, houve quem se apressasse a ver na votação esmagadora dos clubes uma prova da falta de vontade em resolver, por essa via iluminado-revolucionária, todos os problemas do futebol português. Como o último campeonato até foi competitivo a todos os níveis - título, Europa, despromoção... - e sem o argumento da falta de força de um futebol que até voltou a estar representado numa final europeia, os tais problemas ficaram circunscritos à falta de receitas/espectadores. Uma evidência, é verdade, mas reforçada por outra: estamos em crise, não há dinheiro. Encontrar entre o chumbo e os tais problemas uma relação de causa-efeito é misturar tudo numa equação simplista. Citando o povo, é misturar alhos com bugalhos.