<strong><em>SENADO</em></strong> - O cronista José Eduardo Simões mostra os números gerados pela negociação centralizada dos direitos televisivos do futebol espanhol.
Corpo do artigo
Nas reuniões entre clubes, Liga e Federação, foi debatido o futuro do futebol profissional e muitas ideias e intenções mais ou menos originais foram objecto de divulgação pública. No entanto, a matéria-chave que potencia a manutenção, senão mesmo o aumento da enorme diferença entre três clubes e todos os restantes e impede que a qualidade e a competitividade aumente, foi, mais uma vez, assunto tabu. Refiro-me, como é óbvio, aos direitos televisivos em vigor, à forma como foram contratualizados e à sua distribuição. Pode falar-se de tudo e muito do que pouco interessa, desde que o essencial não seja alterado.
os que desceram receberam, com a negociação centralizada e uma distribuição mais justa, cerca de 40% do montante auferido por Real e Barcelona.
Recordo o que referi há largos meses e foi corroborado oficialmente em relatório da UEFA. Portugal é o único país da Europa onde os direitos televisivos não estão centralizados e, por via dessa originalidade, aquele em que a diferença entre os que mais e menos recebem é maior.
Para português ver, comparemos com o que sucedeu na vizinha Espanha antes e depois da negociação dos direitos televisivos ter sido centralizada na Liga.
Em 2014/15, última época da negociação clube a clube, a totalidade dos direitos televisivos (nacionais e internacionais) ascendiam a 851 milhões de euros. A fatia de leão ia para Barcelona e Real Madrid, que recebiam 140 milhões, cada qual (cerca de 1/3 do total), oito vezes mais do que os clubes do fundo da tabela, que recebiam apenas 18 milhões.
A partir de 2015/16, a situação mudou significativamente, com a Liga a introduzir um modelo de distribuição para reduzir a disparidade entre os que recebiam mais e menos. Em dois anos, o valor global obtido duplicou, o que permitiu introduzir uma fórmula em que os dois maiores não recebem menos do que antes e, em simultâneo, é entregue aos outros 18 clubes praticamente todo o aumento conseguido com a negociação centralizada dos direitos televisivos.
O modelo aprovado atribui 90% da totalidade dos direitos para a liga principal, e 10% para a segunda divisão. Em relação à I Liga, 50% do total é dividido de forma igual pelos 20 clubes; 25% é distribuído conforme a classificação média de cada clube nas últimas cinco temporadas; e, finalmente, os restantes 25% dependem de variáveis como bilheteiras, número de sócios, de espectadores e telespectadores por jogo ou subscritores de TV paga.
O fosso, que antes era de oito para um, passou para 2,5 para um.
Assim, em 2016/17, o Real Madrid recebeu 150 milhões e o Barcelona 148; nos cofres do Atlético de Madrid entraram 116 milhões, seguindo-se Sevilha (109) e Villareal (102). Clubes como Alavés e Eibar (8.º e 9.º classificados) receberam 94 milhões. No fundo da tabela, dos três últimos classificados, o Gijon (18º) embolsou 68, o Osasuna 63 e o Granada 62 milhões. Ou seja: os que desceram receberam, com a negociação centralizada e uma distribuição mais justa, cerca de 40% do montante auferido por Real e Barcelona. O fosso, que antes era de oito para um, passou para 2,5 para um. Nesse período, a liga espanhola conseguiu que os direitos televisivos globais aumentassem 100%. A liga espanhola compete com a inglesa para o título da mais vista do planeta e é a melhor em futebol praticado. Servirá de exemplo? Se sim, de que estamos à espera? Ou quem pode não quer que algo mude nesta matéria? Responda quem pode e deve!
Para que serve um banco?
O que um banco deve fazer é recolher depósitos e remunerá-los; emprestar dinheiro à economia, sobretudo, a pessoas, empresas e entidades, que o investe e paga (nem comento os favores prestados a amigos!). Essas são as missões de uma entidade financeira. Um banco não é um agente económico, nem deve criar grupos, promover fundos ou quejandos para controlar ou mandar em empresas. Incluindo clubes de futebol, claro. Ninguém quer mais situações tipo BPN, BPP, BANIF, BES, nem capitais chineses, russos, árabes, brasileiros, ou donde quer que venham ou o quer que escondam, como donos de jogadores e clubes, os quais ficam reféns de quem manda e que se está nas tintas para os sócios. Numa palavra: FORA!
A figura da semana: código de conduta desportiva
Foi anunciado com pompa a elaboração desse código para o futebol profissional. Bem preciso é, tantas são as situações que afrontam uma conduta desportiva decente. Agressões, mortes, insultos, violência física e verbal, usos de todos os meios, incluindo os mais sujos, para atingir os propósitos, com a comunicação social a ser palco e a ampliar, às vezes mesmo a desculpabilizar, os comportamentos mais insensatos e torpes. É um manancial de condutas que são tudo menos exemplares. Desejo e espero que este código venha depressa e seja entendido pelos agentes. E, claro, que seja cumprido à risca, sem olhar a cores ou compadrios.