Dois golos nos últimos ensaios para o Euro e um toque de humor, ontem. Avançado está à prova, mas não é caso único: há Quaresma...
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A forma descontraída como, ontem, Éder se assumiu candidato a goleador do Europeu é um bom sinal, quanto mais não seja por encerrar um toque de humor que reflete ombros livres de ansiedades. E assim, livre, leve e solto, pode ser que faça o que é suposto um avançado fazer: golos. Os dois que marcou recentemente ajudaram-no a suavizar a contestação de que foi alvo, e é justo reconhecer essa resposta positiva, mas isso não significa que as críticas anteriores tenham sido despropositadas. Não foram.
Para ponta de lança, e não apenas na Seleção, o rendimento de Éder foi quase sempre pobre e pouco convincente. Aos 28 anos já não está em início de carreira para justificar uma margem de dúvida generosa. É batalhador? Seguramente. Aplicado? Com certeza. Profissional? Que se saiba, nem se discute. Goleador? Não é. Ou não tem sido.
Mas, apontar o óbvio nem sempre é bem visto, porque em Portugal (não só, mas também) convive-se muito mal com a crítica e os jogadores em particular interpretam uma simples análise a 90 minutos como uma tese de carreira. Éder acrescentou o adereço da luva branca nos festejos e só ingenuamente, apesar da diplomacia da explicação que deu ontem, não se infere daí uma vontade de responder com ironia aos reparos (justos, repita-se) de que foi alvo. Não há mal nenhum na luva, tem até a sua graça, cortando com o cinzentismo do politicamente correto. Ainda assim, a resposta de Éder, quando confrontado com o assunto, pareceu apenas uma meia resposta. E, no que lhe diz respeito, esta é a hora de começar a dar respostas completas. Éder não é o único à prova neste Europeu, nem sequer o principal na Seleção. Quaresma suplanta-o largamente, e também aqui os sinais são positivos. Aliás, Quaresma não deve uma explicação ao país; aquele talento desperdiçado obriga-o a justificar-se, antes de mais, a si próprio e perante o mundo. O Euro é um palco à medida.