PLANETA DO FUTEBOL - A análise de Luís Freitas Lobo.
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1 - É tentador acabar o jogo a canonizar Marchesín e suas "defesas impossíveis", a elogiar a organização defensiva portista, mesmo numa caverna de bloco-baixo em 5x4x1 e, até, ficar com um sorriso trocista olhando para Guardiola por, apesar de todo o seu império faraónico, não ganhar a um adversário com orçamento de migalhas ao lado do que ele gasta. Tudo isso é verdade mas, honestamente, não vejo onde é que algum desses fatores deva fazer sentir alguém confortável no nosso futebol.
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O FC Porto passa aos oitavos da Champions pela forma com venceu e foi superior a Marselha e Olympiakos, forças do futebol francês e grego. Outra coisa é ver o duelo do campeão português contra uma potência do futebol inglês (várias vezes campeão, mesmo que hoje encravado no 11º lugar) e sentir que é inevitável a bola ser, no jogo, "propriedade privada" inglesa durante quase 90 minutos.
2 - Vejo o jogo, ouço o que se diz no fim, a satisfação pelo 0-0, as razões que levaram a esse resultado e penso que a pergunta que todos no nosso futebol devem colocar é diferente. É a de se haveria outra forma do FC Porto jogar para ter sucesso contra o Manchester City? Muito dificilmente.
Ou seja, para responder que sim, teria de surgir um adversário meio adormecido e, no plano de jogo, ter-se uma dimensão estratégica também muito superior à que teve este FC Porto para ser capaz, ao mesmo tempo, de defender bem a toda a largura do campo e, depois, ter a inteligência de saber sair (passe de transição e desmarcação) nos locais, momentos e velocidades milimetricamente certas, para, em contra-ataque, surpreender o gigante adiantado. Pedir tudo isso a esta equipa do FC Porto (e, claro, ao seu treinador) é pedir de mais.
Com o atual nível do onze portista é impossível, sobretudo vendo como, no Dragão, o City jogou num ritmo e aplicação muito superior ao que fizera em Inglaterra
3 - Já houve tempos no passado em que isso foi possível mas nessa altura o nível geral dos jogadores no onze do campeão português (mesmo com semelhante diferença abissal de orçamentos) tinha uma qualidade muito superior ao presente. Com o atual nível do onze portista é impossível, sobretudo vendo como, no Dragão, o City jogou num ritmo e aplicação muito superior ao que fizera em Inglaterra. Ao decidir pisar assim mais forte, fica demasiado evidente a leveza competitiva de qualquer estratégia para o travar.
É muito devido a estas razões que, proporcionalmente, não critico no nosso campeonato as equipas pequenas a defender muito nos jogos contra os grandes. É o chamado "direito tático das equipas pequenas". Na dimensão magna da Champions foi o nosso campeão a sentir na pele essa "outra face" da realidade (o "lado lunar" da existência futebolística). Subitamente tudo se encolhe e o 0-0 é um tesouro.