PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
Corpo do artigo
1 São tempos das vacas progressivamente magras, financeiramente subnutridas. Um ciclo de recessão que vai atingir, cada qual na sua proporção, todo os clubes. Não penso, porém, que vá mudar, a longo prazo, os parâmetros e vícios caros do futebol dos negócios.
Para os clubes portugueses será um desafio às suas "engenharias financeiras" para fugir ao impacto da falta de receitas. FC Porto, Sporting e Benfica já anunciaram a contenção obrigatória. Sem poder vender nem depois comprar com fatias desses negócios, é tempo para vasculhar no fundo do baú, formação e emprestados.
Não é necessariamente mau. Em termos desportivos é um desafio aliciante que pode aproximar mais as forças emergentes e mostrar a astúcia das chamadas estruturas de futebol e poder dos treinadores em inventar jogadores antes quase ignorados.
2 O FC Porto ganhou muito do seu último campeonato assim, com Sérgio Conceição a levantar pedras e tirar jogadores debaixo delas para depois os tornar... indispensáveis. É o princípio da fórmula-Marega. O problema mesmo é que quando os três grandes olham o contingente de emprestados e têm muitas dificuldades em descobrir entre eles alguém que lhes projete esse potencial de reinvenção no nível mais alto que lhes será exigível se regressarem.
O FC Porto já não tem esses mesmos jogadores que foram, sobretudo, dispensados porque não entravam no modelos de jogo de Lopetegui. Com Conceição, encontraram outro futebol e, por isso, outro espaço para encaixarem. Dos emprestados azuis e brancos, poucos terão hipóteses de voltar com esse horizonte. É curioso ver como Janko, um dos laterais-direitos falhados no Dragão, está a jogar bem no Young Boys. Poderá ter uma nova vida? Talvez. Regresso mais certo do central Diego Queirós e, da formação, expectativa para ver Fábio Vieira surgir na elite. Tem tudo (da cabeça aos pés) para dar certo.
3 O Sporting livrou-se de Jesé e Bolasie, contratações disfuncionais conhecendo os jogadores. Agora, a estrutura tem tempo para pensar e decidir bem. Há coisas óbvias. O regresso de Palhinha (n.º6 incompreensivelmente dispensado) e a quase impossibilidade de resgatar Matheus Pereira (o WBA pode ficar com ele pela cláusula de compra). Ivanildo é uma hipótese para o núcleo de centrais do plantel. A formação tem promessas (de Tiago Tomás a Joelson), mas a equipa precisa mesmo é de pesos-pesados, de balneário e relvado, que liderem e joguem..
Estes serão, portanto, tempos para estruturas e treinadores jogarem. Sem pressas mas sem pausas. A falta de dinheiro pode ser compensada pelo saber da observação. O dinheiro só é mesmo tudo no futebol se for bem gasto. E na maioria das vezes, não é.
Um novo espaço competitivo
Perde-se de vista a legião de emprestados pelo Benfica. Muitos já foram contratados nessa lógica negocial com outros clubes. Nunca imaginaram vestir a camisola encarnada. Penso, por exemplo, em casos como o de Cádiz. Alguns já não estão nas hipóteses para estes novos tempos, mas ainda vejo Alfa Semedo com espaço no plantel, uma opção multifunções para o meio-campo no decorrer dos jogos.
Um caso mais difícil é o de Krovinovic. A lesão travou a sua afirmação. Muito tempo parado, tem jogado no WBA e, em condições físicas normais, seria uma boa hipótese até para o lugar de n.º10 quase segundo avançado que o modelo-Lage procura. Terá Pedrinho, que embora seja um jogador interessante, ainda é muito sul-americano, levezinho no jogo e na tática, ainda para ser feito em termo europeus. Não será fácil uma adaptação rápida. Mais curioso estou para ver se Diogo Gonçalves, a jogar bem no Famalicão mas às vezes "sem cabeça", consegue estabilizar o seu crescimento, ou seja, atingir a chamada maturidade traduzida na consistência do talento. Tem futebol para isso.
Todo este novo cenário pode tornar-se perfeito na "teoria dos estímulos" para este tipo de jogadores. O espaço competitivo antes fechado agora abre-se.
Modelos
Douglas-Baliza
Guimarães tem visto a baliza como algo híbrido. Sabe que precisa de melhor, mas tal não é prioridade para a equipa melhorar. Miguel Silva perdeu-se no seu "overacting" exibicional. Precisa de "outro saber estar na baliza", técnica e opções. Mas existe Douglas. Quando no banco, sabe que inevitavelmente vai voltar. E volta sempre bem. Sai na "mecha" a fechar ângulos, voa sem ter asas, cresce para avançados isolados e, sem encómios, é dono da ilha de guarda-redes do Vitória. Gosto dele.
Mafra-II Liga
Nacional e Farense estão destacados para subir, mas o Feirense aperta. Todas em 4x3x3 com jogadores diferentes (Ruben Micael, Gauld - este miúdo está mesmo crescido e merece I Liga - Fábio Espinho) a pegar na equipa, mas o onze que mais gosto mesmo de ver é o Mafra de Vasco Seabra (4º lugar, já longe). Mete alas "por fora" ou "por dentro" (Nuno Rodrigues e Lucas Silva, 20 anos, bom jogador), um n.º10 experiente a "abrir o livro" (Zé Tiago), lateral a subir bem (Rúben Freitas) e critério de construção conjunta a encontrar espaços. Não irá subir, mas para mim mostra o que é "jogar bem".
Matheus Silva -Farense
Observando jogos da II Liga, dos principais candidatos à subida, gosto do lateral-direito do Farense: Matheus Silva. Destacou-se no Paysandu e saiu do Bahía para o Algarve. Com raízes no Paraná, tem um jogo agressivo a defender, corta muitas linhas de passe, discute bolas divididas e depois sobe, com critério, a atacar, revelando precisão de cruzamento. Tem 22 anos e com robustez física (1,87 m) e tática, seria, para já, uma boa aposta para equipa média da I Liga.