Opinião de Nuno Correia da Silva, administrador de empresas
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O nível a que chegou o futebol português não foi acompanhado pelas soluções financeiras que o país disponibiliza a uma das indústrias que mais valor cria, a indústria do futebol. Podemos dizer que, do ponto de vista financeiro, estamos no Paleolítico, ainda agarrados ao pouco que a banca tem para oferecer.
Espreitando além-fronteiras, encontramos múltiplas soluções, como fundos que financiam com dívida, fundos que entram com capital, produtos financeiros arrojados, como facilidades de empréstimos com garantia, ou empréstimos com o colateral do plantel. Empréstimos com garantia são financiamentos disponibilizados aos clubes para um objetivo específico, como aquisição dos direitos desportivos de um jogador, ou necessidades gerais de fundo de maneio, são normalmente de maturidade relativamente curta (muitas vezes precisam de ser renovadas anualmente). Os mutuantes exigem garantias sobre a totalidade dos activos de um clube ou sobre os seus activos de maior valor, embora a natureza das garantias fornecidas dependa das regras da liga em que o clube compete. Os direitos económicos sobre os jogadores não podem servir de garantia, a FIFA não o permite. Mas é possível desenhar soluções que ultrapassem as restrições impostas em 2015, como os empréstimos com a garantia do valor total do plantel. Não é permitido apresentar os direitos económicos individuais como garantia, mas é possível propor como colateral uma percentagem do valor da totalidade do plantel. São acordados compromissos específicos que regem o controlo e a utilização das receitas de futuras vendas de jogadores. São empréstimos garantidos contra todos os activos económico/desportivos do clube, ao invés de certos activos específicos.
Pensar financeiramente o futebol é, também, alargar as fontes de receitas. Em diversos países estão a ser acrescentados os direitos de streaming aos direitos de transmissão televisiva. A Liga inglesa está permanentemente no mercado a negociar novos acordos, nomeadamente com os gigantes Apple TV, Netflix e DAZN. Em streaming serão transmitidos conteúdos que vão muito além dos jogos, incluindo treinos, entrevistas a jogadores ou documentários sobre as “lendas” de cada clube.
Também os “NFT’s” surgem com grande potencial de gerar novas receitas. São direitos que conferem aos clubes receitas cada vez que um conteúdo seu é divulgado nas redes. É tempo da indústria financeira portuguesa se ajustar ao ritmo do futebol nacional.