VISTO DO SOFÁ - Opinião de Álvaro Magalhães
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No FC Porto, está em curso uma onda de renovações com jogadores. Começou em Outubro (Evanilson, Pepê, Zaidu, João Mário) e continua com Uribe e Taremi. Estas renovações, e outras, resultam de indicações de Sérgio Conceição, como disse Pinto da Costa: «O clube quer renovar com todos os jogadores que o treinador acha importantes". Sendo assim, estranha-se que não se fale da renovação do contrato do próprio Sérgio Conceição, que também acaba em 2024. E os adeptos - essas criaturas frágeis, permanentemente em transe -, começam a inquietar-se.
Sérgio Conceição chegou há cinco anos e meio (nesse período, passaram mais de dez treinadores por Benfica e Sporting), ganhou nove títulos, tornou-se no treinador com mais vitórias no clube e fez mais do que era possível fazer na Champions. Graças a ele, o clube atravessou altivamente um período negro da sua existência, de humilhante vigilância financeira. E fez tudo isso «com 30 por cento do plantel da equipa B, outros 40 por cento de equipas médias, Paços de Ferreira, Santa Clara, Famalicão, Rio Ave... sem poder ir buscar nenhum jogador e só vender para equilibrar», segundo as suas próprias palavras. Por tudo isso, e também por ter restaurado a mística perdida, tomou de assalto o coração dos adeptos e aí montou eterna morada, o que vale muito mais do que a estátua de gesso que puseram no museu. É esse capital afectivo, aliás, que respalda a sua insubmissão, mesmo diante da direcção do clube, quando é preciso.
Muitos dirão que ele já cumpriu a sua missão por aqui e tem agora o direito de ganhar a vida lá fora, onde há quem o queira e até pague melhor. Mas não é bem assim. O seu lado indomável e irascível assusta os bons clubes europeus, embora haja no PSG quem pense que ele é o indicado para ministrar ordem unida à desgarrada legião de vedetas. E o Atlético de Madrid, que é a sua cara, como se diz, ainda não se quer separar de Simeone. Por outro lado, Conceição já tem aqui um ordenado nivelado pelo padrão europeu. Sabe-se que o Nápoles quis contratá-lo, mas desistiu por não poder pagar o que ele aqui ganha.
Por tudo isto, depreende-se que, nesta altura, o FC Porto é o seu lugar natural. Também por ser a sua casa afectiva, o que lhe concede a graça de ganhar a vida ao compasso do coração. Ou seja: ele está em casa, onde se sente bem e é bem pago, os adeptos rezam pela sua continuação e o presidente tem derramado por aí declarações de amor ao seu treinador. Em Outubro, declarou: «Espero que o nosso treinador se mantenha aqui muitos anos». Na revista Dragões, de Janeiro, escreveu: Tenho a convicção de que esta equipa técnica vai continuar a ganhar muitos títulos». Antes do jogo com o Inter, disse à imprensa italiana que Sérgio Conceição estava no lugar certo e esperava que ele continuasse.
Portanto, se o amor anda no ar e persiste um tão perfeito triângulo amoroso (treinador, adeptos, presidente), nada falta para que se prolongue o contrato de Sérgio Conceição. Ou será que presidente e treinador estão a dizer uma coisa e a pensar noutra, muito diferente?