Comparar uma batalha reincidente, com dezenas de feridos e detidos, aos insultos de adeptos comuns a um relatador é uma triste caricatura do que sucede sempre com as claques do Benfica.
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Para além dos partidos políticos com memória de peixinho de aquário, a discussão sobre as claques em Portugal sofre do problema da generalização.
Num jornal de ontem, um colunista preocupado punha no mesmo cesto os insultos de adeptos comuns a jornalistas espanhóis nas bancadas do Dragão e a batalha entre as claques do Benfica e as do Dínamo de Kiev nos arredores da Luz.
De um lado, dezenas de feridos e detenções; do outro, a dignidade magoada das progenitoras dos relatadores da Movistar. De um lado, um longo cadastro de incidentes graves e regulares, já com mortes, espancamentos e processos criminais; do outro, o dia-a-dia de qualquer radialista que faça relatos de futebol num estádio português.
Mas a realidade não é portista, nem benfiquista, e não paga cotas. Se escrever que as claques do Benfica são o problema de violência mais sério do futebol português faz um jornalista soar assim ou assado (aos ouvidos dos leitores já inquinados por natureza), paciência. São os números e os registos que o dizem e reafirmam, uma e outra vez, apenas para que, a cada novo incidente, apareça alguém - frequentemente com responsabilidades públicas - a branquear o tema com falsas equivalências para não ser conotado com estes ou aqueles.
O resultado é que problemas muito sérios acabam desvalorizados. Olhar com atenção para as claques do Benfica (nem é preciso meter o clube em si ao barulho)? Para quê se os Superdragões e a Juveleo também fazem coisas, não importa de que natureza essas coisas sejam, nem com que consequências, nem o que tenha sucedido aos eventuais processos criminais. É tudo o mesmo. Olhem para os factos, comprem um par de gónadas e saiam do meio da ponte.