VISTO DO SOFÁ - Opinião de Álvaro Magalhães
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Lá se foi mais um campeonato que ainda há pouco começara, e logo um daqueles em que foi preciso esperar pela última jornada para se conhecer o campeão, o que só aconteceu 28 vezes em 89 anos.
Até ao jogo com o FC Porto, na Luz, o novo campeão, o Benfica, teve um percurso de sonho, tanto no campeonato como na Champions, e jogou o melhor futebol que se viu por aqui, mas essa derrota empurrou a equipa para o divã do psicanalista, custou-lhe o sonho europeu e ia-lhe custando o campeonato. Valeram-lhe os dez pontos que tinha no bolso. Mesmo assim, só sobraram dois, que chegaram para matar uma fome de títulos que, pela amplitude dos festejos, se diria ser ancestral. Diz-me como festejas e eu digo-te há quanto tempo não ganhavas nada.
O FC Porto chegou a cheirar um título que viu sempre ao longe e essa recuperação de oito pontos terá sido o melhor que fez numa época estranha, em que foi forte com os fortes e fraco com os fracos. Como garantiu a entrada directa na próxima Champions, ganhou duas Taças, podendo ainda ganhar a terceira, qualquer balanço da época tem de ser positivo, principalmente, se considerarmos o plantel cada vez mais enfraquecido, com um visível excesso de jogadores medianos. O próprio Conceição o disse, num daqueles dias aziagos, de mau perder, em que até a verdade lhe sai pela boca fora.
Por sua vez, o Braga chegou a um histórico terceiro lugar, aplicando um golpe certeiro na ditadura dos três grandes. Ainda pode ganhar a Taça, o que faria desta uma das melhores épocas de sempre. E com um treinador barato, desconhecido, inexperiente, o que levanta a questão "filosófica": para quê treinadores caros, famosos e com grandes currículos?
O quarto lugar do Sporting e a eliminação nas duas taças (numa delas, pelo Varzim), diz-nos que a época foi abaixo de zero, apenas com um ou outro lampejo luminoso, como os primeiros jogos da Champions. Mas Amorim continua a ser o menino bonito da Liga. Nunca ninguém gozou de tanta indulgência. Mais vale cair em graça do que ser engraçado; e ele caiu em graça. É o Amorim cheio de graça. E até pode ser premiado pelo fracasso com uma ida desta (liga) para outra melhor: a Premier League, por exemplo.
O nível da arbitragem, VAR incluído, foi o pior deste campeonato, com erros inexplicáveis, considerando o apoio tecnológico existente. A incapacidade de ver o óbvio, por vezes ululante, foi uma constante dos VAR; e o novo campeão foi o maior beneficiário dessas falhas inexplicáveis. Gente mais fiável para os VAR, precisa-se, tal como se precisa de uma revisão criativa do protocolo e, já agora, da divulgação dos áudios árbitros-VAR, o que já foi testado na Premier League e traz mais transparência e credibilidade ao processo.
E agora, amigos, desfrutem a final da Taça, pois é a última bolacha do pacote. Depois, aguentem-se como puderem no defeso, nem que seja a ver daqueles intragáveis programas sobre transferências. Daqui a dois meses e tal (eu sei, é uma eternidade, mas passa, acreditem), tudo recomeça e o coração acorda, alvoroçado, e volta a bater.