APITADELAS - Um artigo de opinião de Jorge Coroado.
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Acredite-se piamente. A evolução do futebol português, vista com base nos êxitos desportivos, merece e justifica encómios mil.
Observada no seu todo, i.e., vertentes associativa, desportiva, diretiva, administrativa e financeira desde os primórdios até ao presente, o panegírico não é tão virtuoso.
Apesar de "clube", por definição, ser sinónimo de associação de pessoas em reunião para recreação, jogo, atividades culturais e/ou prática desportiva, no que tange o futebol, sobretudo o profissional, não é possível dissociar o desenvolvimento do mesmo da influência e necessidade de dirigentes que puxavam da carteira e assinavam o cheque.
Contudo, a ligação amorativa ao emblema de eleição sempre toldou muitos dos respetivos apaniguados, havendo quem, mero sócio ou adepto, qual mecenas, acredite-se piamente, contribua significativamente, em género ou espécie, para engrandecer o ex-libris da sua predileção, alguns cometendo autênticos desvarios eticamente inaceitáveis. Não se estranhe, pois, a existência de indivíduos que, na ânsia de ajudarem o "seu clube", sejam capazes de cometimentos socialmente censuráveis. Apesar de roçarmos finais do primeiro quartel do século XXI, ainda há quem, aparentemente, assim aja. Atente-se no Sr. César Boaventura, pessoa acusada, pelo Ministério Público, da prática de uns quantos ilícitos exercidos, eventualmente, em prol do SLB. Compreensível e convenientemente, acredite-se muito piamente ..., o MP terá intuído o voluntarismo daquele sujeito em prol do seu clube de eleição, motivo pelo qual, possivelmente, arredou o emblema encarnado de qualquer responsabilidade, que não interesse, nas caloteias imputadas. Acredite-se piamente ...!
Anões
De facto, não é necessário a congregação (comunidade em geral) ficar tomada de pasmo pela deliberação do MP. Apesar de em situações semelhantes ser grande a facilidade com que os crentes se deixaram manipular, seria exigir demais pretender-se a anexação dos ilícitos imputados ao Sr. Boaventura a um eventual interesse comum do emblema da Luz. Associar os aventados ilícitos a um qualquer benefício desejado pelo clube encarnado seria, graças à "luxuosa" extravagância e aos hábitos enraizados de padres e afins, arquitetura imponente capaz de definitivamente deixar de fazer com que todos nós, perante poderes instituídos, nos sintamos autênticos anões do raciocínio e pensamento.
Prazer
Há pessoas para quem o trabalho é fonte de prazer, sobretudo quando conseguem desencantar soluções para problemas intrincados mas, não deixa de ser uma satisfação fria, cerebral. A arbitragem, sobretudo do futebol, apesar das dificuldades que muitos pretendem fazer crer existirem, não oferece dúvidas emaranhadas, porém exige frieza e cérebro. Assim, um qualquer dirigente da classe deveria ser eleito por ser merecedor do respeito e da confiança dos seus pares, não por "interesse paroquial", demonstrando cabalmente ao universo da modalidade não dever qualquer espécie de vassalagem aos poderes instituídos, servindo o setor, sem se deixar orientar pelo "rei, condes e barões".