"Densidade competitiva provoca baixa de rendimento nos jogadores"
TÁTICA DO PROFESSOR - Jesualdo Ferreira, cronista de O JOGO, escreve sobre o calendário infernal de janeiro e fevereiro, que afeta o rendimento das equipas de futebol em Portugal.
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1 - O calendário competitivo do futebol português está apertado como nunca e ouvimos e lemos por estes dias vários treinadores a alertarem para esse facto. Aliás, no dia 8 de janeiro, na Cidade do Futebol, e numa iniciativa que é de apreciar por parte da Federação - com a chancela de José Couceiro, que conhece muito bem os problemas, porque ele próprio é um treinador -, o assunto foi debatido, ao que se sabe, com proveito.
"Os treinadores pouco podem fazer para alterar este problema da densidade competitiva, porque o futebol tornou-se um negócio. Há que reinventar processos."
Os treinadores disseram de sua justiça, reforçando o desacordo para com este calendário competitivo que rouba o tempo de descanso devido aos jogadores. O futebol não ganha com isso, perde qualidade. E têm razão os treinadores portugueses para estes lamentos? Claro que sim. Nos últimos anos, o futebol ganhou maior densidade competitiva e foi tornando mais difícil a tarefa dos treinadores, dos jogadores e do rendimento dos jogadores. Para se jogar bem, tem de se recuperar bem. O tempo mínimo para uma boa recuperação é de 72 horas, mas quando isto não acontece com frequência tudo se complica. Não se pode andar de semana a semana a recuperar em 72 horas.
Essa densidade competitiva de que estamos a falar - e que incomoda hoje os treinadores, naturalmente mais aqueles que estão em mais frentes, basicamente, os clubes grandes - provoca nos jogadores uma baixa de rendimento por falta de treino apropriado. Num plantel em que há elementos que treinam poucas vezes e jogam muitas vezes e outros que treinam muitas vezes e jogam pouco, surge devido a essa densidade a chamada rotação e vem ao de cima também a falta de ritmo quando essa rotação é feita.
2 - É nos treinos, nos muitos treinos que se devem fazer - e depois nos jogos - que nascem as rotinas, é nos treinos que se aperfeiçoam. Se não se treina com a regularidade desejada, se os resultados positivos começam a falhar, a equipa perde força psicológica, e isso pode ser o princípio de um mau bocado. Daí a necessidade de recuperar e treinar, recuperar e treinar; quando não há tempo para cumprir estas duas leis de uma equipa de futebol, os objetivos podem começar a ficar distantes.
É neste contexto que surgem as preocupações dos treinadores, a braços com a falta de tempo para cumprirem aquilo que deve ser a vida de uma equipa de futebol.
3 - Os treinadores, no entanto, pouco podem fazer para alterar este estado de coisas. Tudo isto acontece porque o futebol se tornou um negócio, mandam os operadores de televisão e detentores de direitos. Na Alemanha são fiéis a algo que ajuda a minimizar o problema: em dezembro, o campeonato pára, permitindo o recarregar de energias, garantindo a qualidade da competição.
Em Inglaterra isso não acontece e vamos vendo como as equipas inglesas vão perdendo força, dinâmicas, e qualidade também. O negócio está à frente do futebol-desporto, mas acredito que um dia, não muito distante, o problema terá de ser repensado, sob pena de passarmos a ter um futebol pobre, e julgo que isso também não agradará a quem dita as leis. Até lá, as equipas terão de se readaptar, de se reinventar para lutarem contra esta densidade competitiva. Como puderem...