PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Opinião de José João Torrinha
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1 - Os americanos têm uma frase segundo a qual as coisas só acabam quando canta a senhora gorda.
Há quem diga que Guimarães é má mãe e boa madrasta. No que se refere aos jogadores, acho que não é bem assim
Ora, sendo verdade que a tal senhora anafada ainda não cantou, já todos percebemos que as decisões, para nós vitorianos, estão muito perto de estar tomadas.
E se é verdade que a esperança é a última coisa a morrer, também o é que devemos ser realistas. Com a derrota indigesta de sexta-feira, estamos dependentes de hecatombes alheias para que o apuramento seja possível. Acabou? Não. Mas ficou muito complicado.
E escusamos de procurar explicações fora de casa. Se ficarmos de fora da Europa, a responsabilidade é única e exclusivamente nossa. Não foi por causa da covid. Não foi por causa de arbitragens nos nossos jogos ou nos dos adversários. Não foi por causa do calor contra o Gil Vicente.
Sendo direto: nesta reta final tínhamos que jogar mais. Mas com o nível exibicional produzido, expusemo-nos aos elementos. Ao erro individual. Ao erro coletivo. Aos acasos em que o futebol, felizmente, ainda é pródigo.
Três jogos são três jogos. E Deus queira que as coisas ainda se invertam. Seja como for, só nos resta, para variar, fazer a nossa parte e pelo menos deixar uma última imagem positiva. Não é pedir muito, pois não?
2 - Esta semana marcou a despedida de João Miguel Silva. A sua saída reacende a discussão sobre a relação do Vitória com os atletas que se confessam vitorianos. É o caso do Miguel, que nunca escondeu que é um dos nossos.
Há quem diga que Guimarães é má mãe e boa madrasta. No que se refere aos jogadores, acho que não é bem assim. Há sempre uma franja muito grande de vitorianos que defendem com unhas e dentes os da casa até às últimas consequências. De resto, o Miguel sempre teve, até aos dias de hoje, muito quem o defenda.
Pela parte que me toca, não escondendo que gosto quando vimaranenses triunfam no Vitória, o certo é que sempre tive uma visão um pouco mais objetiva destas coisas. Quando digo objetiva, quero dizer que não exijo mais aos jogadores vitorianos e vimaranenses por terem essas qualidades. Mas também não exijo menos, nem pensar.
O Miguel foi muito novo lançado por Sérgio Conceição e a verdade é que todos os treinadores que se lhe seguiram, de forma mais ou menos consequente, lhe foram dando oportunidades. Também é verdade que essas oportunidades acabaram sempre por terminar e que o jovem guardião nunca se conseguiu impor definitivamente. As explicações podem ser muitas. Haverá responsabilidades próprias e alheias. Há também a valia da concorrência.
Fechado o ciclo, importa pouco a opinião que cada um tem sobre a valia futebolística do Miguel. É ainda muito novo e tem muito por onde crescer. E se calhar o melhor para as duas partes acabou por ser este desfecho. Ao Miguel Silva desejo as maiores felicidades e quem sabe, pode ser que um dia regresse a casa por uma porta bem maior do que aquela pela qual acabou por sair.