PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro
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Durante a semana, o termo "crise" foi utilizado por várias vezes, em muitas peças jornalísticas, nos meios escritos e audiovisuais, para caracterizar o momento do SC Braga.
Mesmo na flash-interview no final do jogo da Taça, contra o Moreirense, o jornalista questionou Artur Jorge sobre a crise do SC Braga.
Será, talvez, este um dos principais sinais de que o SC Braga já é, hoje em dia, considerado pela comunicação social como um "grande". Pelo menos, em teoria. Na verdade, só assim poderemos perceber que, estando o SC Braga em 3.º no campeonato, jogando uma prova europeia (a Conference League) e estando nos oitavos de final da Taça, se começa já a falar em "crise". E, a acrescer a isto, com vários jogadores chamados às suas seleções. Se fosse há 20 anos, seria um registo histórico. Hoje, é sinal de "crise". É um bom sintoma, uma confirmação de que hoje em dia o SC Braga é um dos clubes mais competitivos de Portugal e, por isso, se exige que esteja sempre na linha da frente em todas as competições. Artur Jorge, em resposta ao jornalista, afastou qualquer cenário de crise, respondendo que a sua equipa havia ganho cinco dos últimos sete jogos. Mas, logo a seguir, reconheceu a inconsistência nas exibições e nos índices competitivos do plantel, plasmada em alguma ansiedade que os jogadores demonstram em certos momentos e na falta de eficácia dos finalizadores. Procurar a explicação para esta quebra de rendimento da equipa, face aos primeiros jogos da época, é um exercício especulativo.
Mas é possível perceber algumas coisas: o ritmo vertiginoso de jogos, de três em três dias, deixa marcas. O cansaço não é apenas físico, mas também tem impacto nos processos cognitivos, na decisão e na resposta rápida do sistema neuronal aos estímulos externos. Aquele passe final, que parece tão fácil, ou o golo falhado a poucos metros da baliza são, muitas vezes, sinais desta falta de sincronia entre os estímulos e as respostas do sistema neuronal do jogador, resultado de cansaço acumulado. Também as arbitragens não têm sido muito competentes, com prejuízo para o Braga: lembro as duas penalidades manifestas por assinalar contra o Casa Pia ou o golo inacreditavelmente validado ao Moreirense, após fora de jogo e um ostensivo jogo perigoso do avançado, que leva o pé mais alto do que a cabeça de Borja. A paragem que aí vem vai ser benéfica: para nós, para descansarmos; para os árbitros, para estudarem mais um pouco.