PLANETA DO FUTEBOL - Crónica de Luís Freitas Lobo sobre os protagonistas da I Liga.
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1 - O campeonato chega ao momento decisivo e as verdades clássicas de os bons jogadores poderem simplificar quando chegar a altura de rematar ou cortar a bola que pode decidir o título. O Benfica está em primeiro depois de inventar a meio da época uma outra equipa, um outro sistema e um outro treinador. O FC Porto está em segundo depois de solidificar durante a época a mesma equipa, os sistemas alternativos (o de domínio e o de controlo) e o mesmo treinador.
No Benfica, Ferro entrou bem no eixo da defesa "encarnada". Tem qualidade de saída de bola e será o central com melhor qualidade técnica de passe dos grandes. Junto com Rúben Dias, forma uma dupla que se complementa. No FC Porto, a dupla Felipe-Militão nunca deveria ter sido mexida ao longo da época por uma razão muito simples: era (é) de longe a melhor do campeonato.
Várias certezas do início acabaram porém por se desfazer. Imaginava que dificilmente o Benfica iria conseguir o melhor equilíbrio à frente da defesa sem Fejsa. A recuperação de Samaris, antes "sem abrigo", foi decisiva no meio-campo. Herrera conseguiu crescer a nível de gestão de ritmos quando antes se impunha sobretudo pelas ruturas que fazia, sempre a correr, cansando só de ver. Hoje, olhamos para ele e no meio-campo "a dois" do FC Porto, consegue ser um pêndulo à frente de Danilo. É o jogador mais importante da equipa pelo que perceciona sobre o que ela precisa, já não só para a ir a correr ajudar mas também para saber escondê-la quando é necessário.
2 - Chamo-lhes os "seres superiores" porque em todas as equipas e decisões dos campeonatos existem jogadores que fazem a diferença por si próprios.
João Félix explodiu como a maior revelação da época. Foi a melhor "contratação" do Benfica. Proporcionou um novo sistema (o 4x4x2 que se esconde com ele entre linhas em 4x2x3x1). Corona foi a individualidade que mais fez crescer o ataque do FC Porto ao dar critério aos seus movimentos (meia direita ou centro) com visão de jogo e criatividade... objetiva.
Recuando à ideia do início do texto, na interpretação da época como uma dicotomia de transformação e manutenção, o Benfica cresceu mais no decorrer da época, depois de durante muito tempo o FC Porto ter dado a sensação de que era mais forte. A 180 minutos do final, o processo de transformação é o que se revela mais eficaz. Ironicamente, porém, apesar da vocação goleadora de ambas as equipas, acabamos mais a debater questões defensivas do que ofensivas. Descubram porque não é estranho.
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Onde acaba o "bloco"?
Quer Benfica como FC Porto, na maioria dos jogos contra adversários ditos "equipas pequenas", têm de saber contornar e combater a "ditadura tática do bloco-baixo adversário". Nisso, nenhuma revelou mais criatividade do que a outra (tirando as "serpentes" de Brahimi ou a arte em espaços curtos de Jonas, mas isso são questões individuais porque, coletivamente, senti muitas vezes o exagero de tantos cruzamentos)
Seferovic inventou um ataque com profundidade que não existia com Jonas. Os pontas de lança podem, só pela sua ação (espelho das suas características), tornar a equipa logo mais "longa" em campo, esticando-a. O FC Porto já tinha esse jogo desde a época passada, mas Marega precisa de um "timing" de explosão diferente. É capaz de "morrer" para fazer uma transição defensiva rápida e a seguir surgir na frente só que nessa altura, muitas vezes, os espaços nas costas dos defesas adversários já se encurtaram.