VELUDO AZUL - Uma opinião de Miguel Guedes
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Contra a gestão, marchar, marchar. A falta de velocidade nos Açores misturou-se com a perda de implicação e foi um travão à intensidade que, minutos tantos, se confundia com displicência. O FC Porto colocou-se a oito pontos do líder e não se pode dizer que não estivesse de sobreaviso.
Recuperar oito pontos só não é impossível porque acontece bem cedo, cedo demais para uma equipa que entrou campeã para revalidar.
A insuportável melancolia do jogo com o Santa Clara estava mesmo a pedir um desfecho comprometedor, antecedendo uma viagem tensa para o continente. Recuperações de 7 pontos foram vistas recente e sucessivamente (e por duas vezes, coroando rainha a improbabilidade estatística). Recuperar oito pontos só não é impossível porque acontece bem cedo, cedo demais para uma equipa que entrou campeã para revalidar.
Depois da derrota no Dragão, na anterior jornada, era proibido perder pontos, mas o FC Porto preferiu parar a cada sinal de stop e encostar à berma, quando se tratou de jogar futebol, aumentar cadência e ganhar na dividida. O cansaço, indesmentível, não explica tudo. A dada altura do jogo, percebia-se que o FC Porto estava a mostrar o caminho ao adversário.
Um FC Porto a seis pontos da liderança não podia correr riscos. Tinha que "matar" o jogo.
Os sinais estavam lá, dentro de campo, indolentes. Diogo Costa, com uma grande estirada aos 69', já havia defendido um remate com selo de golo de Gabriel Silva. Espelhos. A seguir à vitória frente ao Sporting no Dragão, a equipa cai com estrondo em Vila do Conde. Após o volte-face em Brugge, o FC Porto desliga-se da corrente ao pretender segurar uma magra vantagem que nada lhe garantia senão um certificado de exposição ao risco. Foi para isto que entrámos bem no jogo, ao contrário de outras vezes, a marcar aos 3': para padecermos do complexo de uma equipa que julga que o jogo se decide pelo relógio ou o determinismo histórico da lei do mais forte. Como se um erro individual não bastasse para deitar tudo a perder. Como se um livre ou um canto não pudesse aproveitar o espaço em aberto. Um FC Porto a seis pontos da liderança não podia correr riscos. Tinha que "matar" o jogo.
Agora, agarrado à calculadora das expectativas, as contas fazem-se antes do fim, mesmo que nada esteja perdido. O FC Porto terá que esperar por um deslize de terceiros para reabrir as contas. Muito provavelmente, só depois do Mundial, na tentativa de adiar a chegada precoce das despedidas do Natal. Meses atrás, tudo começou ao contrário. Incompreensível como este FC Porto acaba por tentar salvar-se na Liga dos Campeões enquanto se afunda na Liga portuguesa. Qualquer erro que some será fatal.