PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Estamos numa altura da época em que já só buscamos respostas definitivas para ter mais certezas sobre as equipas.
Já não faz sentido as teses de estarem ainda em processo de crescimento. A contestação sinuosa em torno de Jesus leva a perguntar que Benfica dos três centrais é este (sobretudo agora com André Almeida no lugar de Veríssimo) sem sair dessa cristalização tática de sistema.
Os sinais de segurança de FC Porto e Sporting (com quase impercetíveis ténues oscilações) dão outra certeza do jogo (nível e eficácia) que podemos encontrar.
Neste ponto, é impossível fugir à tentação de olhar para os dois clássicos FC Porto-Benfica que se aproximam (taça e campeonato) como o ponto de determinação do destino de Jesus. É um primeiro terço de época incompreensível em termos de tudo que rodeia (dentro e fora) o mundo encarnado para encarar as coisas assim com tanta naturalidade.
2 Não acredito em sentenças ditadas por resultados de dois/três jogos mas perante tanto ruído disfuncional ninguém pode fugir a esta realidade que sufoca quem quer falar só de futebol. Faço esse esforço com este Benfica e, por entre o sistema a três, a exuberância da tática-Rafa só torna o problema tático maior, apesar de, por paradoxal que seja, ela os resolva ao mesmo tempo. São os maiores paradoxos e perigos em que pode cair a análise a uma equipa. Acredito, claro, no talento do jogador no seu singular e o atrevimento quebra-defesas com que o exibe (imagino as arrancadas com bola dominada do Rafa), mas se esses solos não estão apoiados por uma ordem coletiva, neste caso de cariz dominador, existem muitas possibilidades dele cair no individualismo. Por isso definir esta tática (em rigor, uma forma do talento individual resolver jogos) com um nome próprio.
3 É verdade que podia, no FC Porto, identificar um jogador com o mesmo poder: a táctica-Luis Díaz. Neste caso, porém, existe um ecossistema que emoldura (e solta) o seu talento sem perder uma ordem que, como se viu no ultimo jogo com o Braga, o treinador Conceição não tem pudor tático em tornar mais de perfil segurador do que desequilibradador por natureza. O ensaio dos três médios (de Uribe à versão solta de Vitinha quase a 10 rompedor) mostrou essa opção (então estratégica) que, acredito, pode agora ressurgir como alternativa sustentada de sistema.
Em ambas as realidades, os solos de Díaz tem uma lógica coletiva diferente dos de Rafa, mas, mesmo vivendo uma equipa mais presa a inconsistências e outra a certezas, no jogo eles podem ir ter ao mesmo local: resolver jogos por si só. O incrível é que é se um pode partir duma ordem estabelecida, o outro pode partir duma revolta individual contra a falta dela.
Simplificando todo o terreno
Após a goleada sofrida no Bessa e exibição repleta de erros primários (que deram autogolos táticos ao adversário) torna-se difícil ver o atual Braga como uma verdadeira alternativa de poder. Distanciou-se mais dos três primeiros e vive na ilha do quarto lugar (dando, até, margem para outros ambicionarem lançar-lhe uma corda).
A decisão da final four da Taça da Liga desta época vai ter assim, dois intrusos, ao clássico torneio final (patrocinado por um regulamento macrocéfalo) entre os grandes. Antes do Braga, caíra o FC Porto, competitivamente distraído numa viagem aos Açores a meio da semana.
O jogo, ou melhor, o aproveitamento mortífero dos erros cometidos atrás pelo adversário, que o Boavista fez contra o Braga, mostra, porém, muito do que podem ser estas equipas ditas reativas em determinados jogos. Em vez de procurar, esperar.... encontrar. No fim, o resultado, na sua frieza pragmática que tanto prestigio ganhou no futebol atual, pode ser exatamente o mesmo. Encetar aventuras tático-futebolísticas em campo é cada vez um risco maior
Quando uma equipa (ou um jogador) atravessam um período de crise (descrença ou duvidas que seja) o melhor conselho que lhe podemos dar é que volte ao seu jogo mais simples.