PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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1 Estes são tempos de sucessivos testes de stresse aos plantéis. Mas como ninguém quer reviver os meses primordiais da pandemia, com interrupção das competições, os emblemas vão aguentando estoicamente os sucessivos golpes que o vírus lhes aplica.
Uns em casos sucessivos e com uma cadência que parece interminável, outros em vagas súbitas e avassaladoras.
A distorção que isto provoca nas competições é óbvia. A vida pandémica encarregou-se de introduzir um fator aleatório que vai muito para além dos habituais (lesões e outros impedimentos). Sobrevive a integridade da competição a este novo normal? Tem de sobreviver, impondo-se a criação de mecanismos de emergência para casos extremos. É por isso extraordinário como, semanas após o dito "jogo da vergonha" e após as decisões que os clubes tomaram para que nunca mais houvesse outro, continuamos a discutir a realização desta ou daquela partida. Não foram os clubes que fixaram os critérios? Pois então agora cumpram-nos.
2 Em cima de tudo isto (como se já fosse pouco) ainda temos a sangria de jogadores que vão disputar a CAN. Recuso-me a engrossar o coro daqueles que dizem que a competição se deveria realizar noutra altura e com menor frequência. É um tipo de argumentação eurocêntrica, quase colonial, em que nós ensinamos aos africanos quando e como deveriam organizar as suas provas. É evidente que para os clubes europeus é duro ficarem sem alguns dos seus intérpretes, como é o caso do meu Vitória. E não é só pela ausência em si, às vezes também é pela falta de ritmo ou condição com que os jogadores regressam. Lembro-me sempre do caso de Benachour que nunca mais foi o mesmo após o regresso da CAN. Dito isto, é aos dirigentes africanos que cabe pôr tudo nos pratos da balança: de um lado os benefícios de fazer a competição nos moldes atuais, do outro, os malefícios, sendo certo que os mais prejudicados por este cruzamento competitivo são mesmo os jogadores. Pois na hora de decidir quem contratar, acredito que, na dúvida, alguns clubes optem por não africanos já a pensar nestas ausências forçadas.
3 Um dos nossos que ruma à CAN é Sacko. O maliano, em abono da verdade, tem perdido espaço para João Ferreira, sendo que não se sabe se a prevista ausência terá influenciado a opção técnica. O jovem lateral português, todavia, é mal-amado de alguns vitorianos. Leem-se os comentários nas redes sociais e aparecem sempre alguns, quando as coisas correm mal, a atribuir-lhe responsabilidades por isto ou por aquilo. Já se sabe que a condição de emprestado, em Guimarães, é sempre um peso que o jogador tem de suportar. Eu próprio não morro de amores por este tipo de empréstimo e escrevi-o aqui. Mas penso que o miúdo tem sido injustiçado. Esta semana ficámos a saber que integrou mesmo o onze do mês de Dezembro do site goalpoint. Os cínicos dirão que as estatísticas não passam disso mesmo, mas as coisas são o que são: excelentes números a nível do desarme e do cruzamento justificam a distinção. Parabéns João!