Como vou acabar a jogada?
PLANETA DO FUTEBOL - A análise e opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 - Há jogos que me fazem ver mais os jogadores do que as equipas. Sucedeu-me vendo o V. Guimarães-Sporting. Através dos jogadores cheguei às equipas.
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O sistema de três centrais do novo Sporting de Amorim começa a ganhar nomes próprios. Rafael Camacho e Acuña como laterais cursores de faixa e Vietto e Jovane como alas falsos a vir "para dentro" percebem bem os princípios que se lhes pedem.
Sporar é, indiscutivelmente, um avançado-centro com superior inteligência de posicionamento, sobretudo a colocar o corpo para receber a bola. Vê-se como faz as rotações certas (mesmo apertado) para, cobrindo com o corpo o espaço, sair depois (com os apoios certos) da marcação e ir buscar a bola na frente, desmarcando-se.
Não é um "matador" finalizador puro. É antes para jogar em conjunto, olhar os movimentos à sua volta (dos seus próprios colegas) e depois entrar nas chamadas "zonas mortas" para buscar a baliza. Claramente um n.º 9 que precisa de equipa que jogue com ele (o que, atenção, é diferente de jogar para ele).
2 - É bom ver a vontade de recuperar de Jovane. O que o seu talento prometia desde que, em 2016, subiu à primeira equipa, tinha-se deprimido vendo que já (quase) ninguém se lembrava disso. No jogo do regresso, em Guimarães, apareceu com uns quilitos a mais mas, em cada bola que apanhou, viu-se que tudo continua intacto dentro dele. Quer nas boas jogadas (entenda-se invenções individuais de finta, passe e progressão com bola) como na voracidade de querer "fazer tudo", até rematar quando devia passar, viu-se a "fome" com que estava. De jogar e provar como pode jogar.
Por vezes, é através dos jogadores que se chega às equipas. Sporar, Jovane e Edwards: a táctica pode ser a melhor amiga do talento?
3 - É impossível não gostar dele, mas Marcus Edwards é um talento difícil de perceber para quem não lida diretamente com ele. Pouco tem de inglês. Parece brasileiro, até pela forma como, às vezes, quer acabar jogadas que começa de forma fantástica, ignorando quem está melhor colocado a seu lado. Teve um lance mirabolante, junto à linha de fundo em que pareceu, ao rematar de ângulo impossível, querer que a bola "esvaziasse" para poder entrar.
Tem de olhar mais para a sua própria equipa do que para a adversária. Porque esta, ele ultrapassa facilmente, mas a primeira, custa-lhe ver com a atenção exigida. É empolgante sem... os "timings" certos. Precisa de ser, por uma época que seja, um "jogador de treinador", no sentido deste (seja quem for) o assumir como projeto pessoal.
Há quem fale sempre da táctica como se ela fosse uma amarra para os jogadores. Pode ser, mas essa é a "táctica negativa". A "boa táctica" dá critério ao talento do jogador. Mais do que o prender, liberta-o nos locais certos e não em desertos de aventuras individuais.