Como Roger Herbin foi um ícone do melhor futebol europeu
PLANETA FUTEBOL >> Herbin foi um visionário do treinador estudioso do comportamento humano antes das tácticas.
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1 - A história do futebol está cheia de heróis menos conhecidos. A França perdeu, nos tempos recentes, dois dos maiores revolucionários criadores do seu mais belo futebol da era moderna. Depois do criador do "football champagne" dos "Les Bleus", o alquimista Hidalgo que, nos anos 80, provou como se pode conciliar artistas sem subverter taticamente uma equipa (com um onze com quatro n.º 10, Tigana, Fernandez, Giresse e Platini, e ganhando) partiu agora o criador do futebol da "técnica rápida" dos "Les Verts", o homem da enorme cabeleira ruiva, Roger Herbin, que, nos anos 70, criou o lendário St. Étienne, feito quase só de jogadores da formação, e assim ganhou muitos campeonatos, brilhou na Europa e fez sonhar todos amantes do bom futebol que desafiava gigantes.
2 - Herbin foi um visionário do treinador estudioso do comportamento humano antes das tácticas. Apesar dos elogios, nunca se considerou grande treinador: "Uma equipa não é mais do que uma grande família. O entendimento do treinador com os jogadores não é necessário. O essencial é cada um assumir as suas responsabilidades".
Na base do seu saber estava o pai do futebol francês, Albert Batteux que, quando abandonou em 72, indicou o antigo jogador Herbin (médio-defensivo, líbero) como seu sucessor na "casa verde". Entre jogador e treinador, ele conquistaria oito títulos de campeão francês. Ficou conhecido como "Le Sphinx", tal a forma impassível como vivia os jogos no banco.
Na sombra, estava o caça-talentos Garonnare, que descobriu o avançado-centro Rocheteau, num núcleo de craques da formação desde Repellini, Lopez, Janvion, Merchadier, Bathenay, Santini, Sarramagna aos inesquecíveis irmãos Revelli. Ao mesmo tempo, contrata dois estrangeiros de grande nível sem gastar muito dinheiro: o guarda redes jugoslavo Curkovic e o central argentino Piazza. Estava montada uma bela equipa.
Para além do duo de estrangeiros, todos os jogadores tinham nascido no centro de formação do St. Étienne, ao qual chegaram com 15/16 anos. Uma cruzada de bom futebol da qual Herbin foi o pai espiritual.
3 - Quem nunca sentiu a atmosfera do Estádio Geoffrey Guichard numa noite europeia, não pode dizer que sabe plenamente o que é o autêntico calor e apoio do público em comunhão com uma equipa. Até meados dos anos 70, o futebol francês vivia longe do nível competitivo das grandes nações europeias. Com o St. Étienne de Herbin tudo mudou. Finalmente, a França tinha uma equipa capaz de lutar pela conquista da Europa, praticando um futebol de expressão latina, de toque curto e apoiado. A grande época europeia surgiria em 75/76, quando após eliminar Copenhaga, Glasgow Rangers, Dínamo Kiev e PSV, chega à final da Taça dos Campeões Europeus. Do outro lado, no Hampden Park de Glasgow, o imponente Bayern Munique.
4 - Na véspera do jogo, Rocheteau lesiona-se e não recupera mas, destemidos, os franceses fazem sofrer o império do futebol força com dois remates aos postes de Maier. É neste ponto que entra a lenda da baliza com postes e barra quadrados e não redondos como agora, que provavelmente mudariam o efeito da trajetória da bola depois de lhes bater. Ou seja, sendo quadrados, o natural era ressaltarem logo a direito (como aconteceu) mas com os contornos redondos atuais tudo indica que seria diferente e essas duas bolas teriam ganhado o efeito oposto ao bater nos postes e barra e ido para dentro. Nunca saberemos.
Na segunda parte, o Bayern, de livre, faz o 1-0. Aos 82 minutos, Rocheteau entra mas não conseguiu virar o jogo. A derrota não ofuscaria o brilho daquele sedutor onze. Toda a França se revira naquela equipa e nunca mais uma baliza teria, nas competições europeias, postes e barras quadradas.Herbin abandona Les Verts em 1983, Sem sucesso noutros clubes, voltaria em 87 mas sairia três épocas depois. Partiu esta semana aos 81 anos.