Referi há dois meses que o Totonegócio se transformou numa enorme injustiça desportiva quando a dívida que faltava liquidar em 2010, no montante de 25,3 milhões de euros, quase toda da responsabilidade de Porto, Benfica, Belenenses, Sporting, Boavista, Salgueiros, Farense, Braga e Amora (21,2 milhões em conjunto), passou ao regime de "banho-maria".
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Desde então, esses clubes pouco ou nada amortizaram das respectivas dívidas, enquanto do lado oposto existem 90 emblemas que nada ou pouco recebem do Totobola. É a justiça dos poderosos, com a Federação a ajudar e a tentar que o assunto ande esquecido, porque assumiu 50% da dívida em 2011 e passou a receber e gerir, desde então, as verbas do Totobola.
"Dos montantes gerados, a parte de leão vai para os clientes habituais, o Estado e entidades exploradoras. A seguir, a Federação Portuguesa de Futebol. No finalzinho da fila aparecem os clubes."
Coincidência ou não, chegou ao meu conhecimento que o homem invisível que tutela a pasta dos desportos terá determinado fazer um levantamento da situação para os clubes envolvidos no Plano Mateus. Esperemos que, a ser verdade, seja reposta a justiça e equidade. Quem deve, que pague; quem nada deve, que receba, e tudo reportado a 1 de Janeiro de 2011. Se nada acontecer, é porque o dito, além de invisível, é risível.
Mas a questão dos jogos online, do Placard e das apostas desportivas em geral tem muito que se lhe diga. Os diplomas aprovados pela mão de Emídio Guerreiro no Governo de Passos Coelho foram bastante debatidos e estão bem elaborados, mas pecam numa questão essencial: a distribuição desequilibrada das verbas obtidas, que penaliza quem, de facto, faz movimentar essas plataformas - os clubes de futebol, responsáveis por mais de 75% da receita de todos os jogos online.
Concursos realizados e adjudicações atribuídas a novos operadores e à Santa Casa da Misericórdia permitiram que o negócio movimentasse, desde o início, um grande volume de verbas e continue a crescer a bom ritmo (ao contrário do Totobola). Dos montantes gerados, a parte de leão vai para os clientes habituais, o Estado e entidades exploradoras. A seguir, a Federação Portuguesa de Futebol. No finalzinho da fila aparecem os clubes, que recebem uma ínfima parte do contributo que dão para as apostas desportivas e jogos online.
Para dar uma ideia, cada clube profissional terá encaixado, nos últimos 12 meses, cerca de cem mil euros das apostas da Placard e outro tanto dos jogos online. Assim, a totalidade dos clubes das duas Ligas terão recebido menos de 3,5 milhões de euros por cada uma daquelas modalidades de apostas (e terão de pagar, em caso de lucro do exercício, impostos ao senhor Estado). Se pensarmos que o futebol contribuiu, no mesmo período de um ano, com algo como 110 milhões de euros de receita bruta apenas para os jogos online, é possível perceber porque referi que as receitas obtidas são distribuídas de forma desequilibrada, com prejuízo notório para os clubes (apenas 3% da receita total).
Como se não bastasse o Totobola, que anda desaparecido do mapa (a ver vamos se há coragem para reverter a situação), é fundamental que Federação, Liga, operadores e Governo se reúnam e promovam uma nova distribuição, mais justa e equilibrada para os clubes profissionais, que continuam a vender bilhetes para os espectáculos desportivos com IVA a 23% e a ser uma autêntica "vaca leiteira" para os cofres do Estado.