Como olhar o duelo entre Ruben Amorim e Carvalhal
No estilo de jogo, o duelo Amorim-Carvalhal terá muitos pontos de partida como análise. Lanço o que (talvez) mais os distanciam numa visão tática global
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1 - Não é só mais um simples jogo. Pressente-se que dentro do corpo duma destas equipas poderá estar o poder de criar uma rutura no "status bipolar" que, desde longas épocas, marca o nosso campeonato.
De onde nascem estas novas expressão de força? O Braga, antes de crescer como equipa, cresceu como clube. O Sporting, sem ter necessidade de crescer como clube, cresceu como equipa.
Ser candidato é ser capaz de chegar ao último terço do campeonato em condições (entenda-se margem pontual em relação ao primeiro lugar) de lutar pelo título. Sporting e Braga estão hoje nesse estado competitivo capaz de abanar o domínio de FC Porto e Benfica.
O Sporting luta por refazer a história. O Braga luta por reinventar a história. O Sporting após vinte anos do seu último título (a superequipa Jardel-João Pinto). O Braga, de forma inédita, em busca, no ano do seu centenário, por um primeiro título que, ainda há poucas épocas, era visto como utópico. Mas nenhuma realidade (nenhum "muro") é imutável para sempre. Tudo pode mudar.
2 - De onde nascem estas novas expressão de força? O Braga, antes de crescer como equipa, cresceu como clube. O Sporting, sem ter necessidade de crescer como clube, cresceu como equipa.
O "cimentar progressivo" do projeto bracarense foi, na superior visão negocial do "futebol dos empresários", capaz de criar grandes equipas todas as épocas mesmo vendendo, ao mesmo tempo, os melhores jogadores. Cresceu assim e, por isso, agora, pode resistir (dizer não a negociar a transferência) à tentativa de lhe "roubarem" o seu ponta de lança, Paulinho, o "n.º9 de quimera desejada" exatamente pelo Sporting. Para a atual equipa leonina, ele seria a peça perfeita que faltaria num onze que joga com "jogadores do treinador", escolhidos para uma muito específica forma de jogar. Esse fator foi decisivo para (baixando "expectativas de pressão") resgatar a aura (com bom futebol) e poder voltar a lutar pelo título através do que joga e não (só) pelo estatuo adquirido de "grane".
3 - No estilo de jogo, o duelo Amorim-Carvalhal terá muitos pontos de partida como análise. Lanço o que (talvez) mais os distanciam numa visão tática global: Estamos perante a equipa que menos muda (no sistema e dinâmicas) a sua forma de jogar, o Sporting dos "dogmatizados três centrais", contra a equipa que mais muda durante o jogo (no sistema e dinâmicas, também) a sua forma de se movimentar, o Braga das "trocas posicionais" na frente e da falsa "defesa a 3" com um extremo disfarçado de lateral.
Até que ponto este "confronto direto" poderá ter a estratégia mais forte do que a identidade, será a forma mais atraente de o começar a ver. Se for assim, o "olhar camaleónico" bracarense pode ser mais forte. Se for ao contrário, o "olhar fixo" leonino pode reforçar a liderança.
O "olhar camaleónico" bracarense e o "olhar fixo" leonino. Diferentes olhares para o grande duelo Sporting-Braga. Eles ameaçam o poder instalado
Mais "futebolisticamente puro" do que o duelo Jesus-Conceição,
Um confronto tático Amorim-Carvalhal é hoje, no cenário do futebol português, mais "futebolisticamente puro" do que o duelo Jesus-Conceição, presos às vísceras de rivalidade dos clubes e seus poderes de influência dentro deles. Os jogadores são "peças" antes de protagonistas.
O Braga tem muitas "baixas-covid" e outra (a do voador de Galeno) que podem condicionar a melhor expressão do seu plano, mas a qualidade de pensar o jogo (e um plantel rico) continua presente. Quero destacar o jogador que me está a surpreender mais: Iuri Medeiros. Cresceu na cabeça e nos pés. Joga o "seu jogo" e, ao mesmo tempo, o da equipa, em sociedade de trocas posicionais (e espaços) com Ricardo Horta.
O Sporting deu indícios de hesitação nos último jogos. Contra uma equipa fechada (Farense) ou na gestão do jogo (contra Belenenses). Mais do que a tática, sinto que depende mais dos jogadores e se tivesse de dizer um, dizia... Nuno Santos. Porque se é o "Pote" Gonçalves que "faz chover" com rasgos técnicos, é o lado voador veloz de Nuno Santos que abana qualquer jogo (pelas jogadas individuais-coletivas)