Com ou sem Bruno, existe um novo Sporting?
PLANETA DO FUTEBOL - A análise de Luís Freitas Lobo ao Sporting e ao Vitória de Guimarães
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1 - Ninguém precisava que Klopp fosse, no fim do jogo, dizer a Bruno Fernandes que era "um jogador de topo" para todos nós o ficarmos a saber. É um episódio engraçado, mas, honestamente, despropositado para destacar.
Bruno Fernandes impressionou jogando o que sabe, embora sem partir da sua melhor posição.
Quem anda no futebol internacional, não se admira com o valor e potencial de Bruno Fernandes, nem ele precisa deste reconhecimento quase paternal, como se fosse um miúdo saído dos juniores ou a começar a carreira.
Não gosto de falar do valor dos jogadores a propósito das verbas das transferências, mas os que ouço para a transferência de Bruno Fernandes não fazem sentido, em comparação com outros que surgem neste mundo. A diferença é fácil de ver onde está. O que falta para a transferência (e valor) disparar para se consumar também parece claro: que o intermediário certo entre no negócio.
2 - Bruno Fernandes impressionou jogando o que sabe, embora sem partir da sua melhor posição. No 4x4x2 com Vietto no meio, atrás do ponta de lança mais fixo (Luiz Phellype), ter de jogar mais descaído para a esquerda não faz dele um ala nem o prende a um flanco, porque ele tem a inteligência de sair dele para ir buscar a bola, o jogo ou toda a equipa, e dar-lhe organização.
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A construção do 2-2 que ele começou e acabou com o último passe revela também o que pode ser, na estrutura e dinâmica, o Sporting se ele sair, mas é difícil imaginar ao mesmo tempo aquilo tudo acontecer, com aquela qualidade e precisão, sem ele a executar.
Tudo isto conjugado com a boa pré-época de Wendel. Tal acontece por finalmente estar a jogar na sua posição e na distribuição certa do sistema para ele (duplo pivô, dois volantes, como chamam no Brasil, e um "meia", o segundo avançado, solto à frente). Neste habitat posicional e de interligação de espaços e posições, cresce para e no jogo. Tem corte, saída e chegada.
Doumbia fica com missão também mais definida: ficar atrás e... mover-se quando tem de controlar o seu metro quadrado de equilíbrio tático e soltar a bola sem inventar no primeiro passe de transição defesa-ataque.
3 - Gostei de ver este Sporting fazer o seu jogo de triângulos nesta conceção do sistema. A ideia de Keizer tanto pode surgir num sistema de defesa a 3 como nas variantes do 4x4x2 ou 4x3x3, mas para respeitar as características específicas dos médios (não as suas polivalências limitadas), tem de lhes dar o habitat tático-coletivo mais adequado. Sem isso, tudo será jogar bem "apesar de" e nunca "por causa de". É muito diferente.
Foi a segunda situação contra o Liverpool, razão porque esse jogo pode ser referência para o futuro. Mesmo sem o jogador que Klopp viu que era muito bom e que saudou como um júnior no fim.
Surpreendeu-me ver Ivo Vieira apostar em João Carlos Teixeira
O primeiro Vitória
O V. Guimarães ganhou no Luxemburgo e abriu a caça à Europa portuguesa da época com um golo no último minuto de um belo médio, Joseph, que terá de ser um n.º 8 livre e nunca um n.º 6, como já muitos pensaram. Ivo Vieira leu o plantel todo e por isso não hesitou em apostar em Al Musrati (vindo da equipa B) para esse lugar de n.º 6.
Esteve responsável, sem querer inventar, tal como o outro "reforço" vindo do onze B, Tapsoba, central que se assumiu sem medo (já tinha jogado num sistema de defesa a 3 na equipa B), bem apoiado (e protegido) pela autoridade sempre silenciosa de Pedro Henrique.
Em 4x3x3, a equipa resgatou os princípios de posse vindos da época passada (qualidade), tal como revelou também outro velho sintoma: o de pouca objetividade no último passe/finalização (limitação).
Tenho sempre dúvidas ao ver Rochinha numa ala. Surpreendeu-me ver Ivo Vieira apostar em João Carlos Teixeira (um bom jogador que tem de ter mais... sangue para triunfar na carreira). Quando Pêpê entrou, a equipa passou a jogar melhor, porque passou a pensar melhor. Um bom primeiro passo.