Uma opinião de José Eduardo Simões.
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O campeonato recomeçou após um período de transição morno com algumas notícias e poucas transferências.
O que salta à vista é que não houve vendas de relevo e impacte financeiro
Há público, não há público, volta a haver com condições que seria interessante ver aplicadas aos transportes públicos (aí o vírus não entra nem tem condições de se transmitir entre humanos pois prefere recintos abertos e amplos e nunca por nunca espaços fechados e sobre lotados). O Sporting entrou bem e, depois de vencer o Braga na Supertaça Cândido de Oliveira, parece ser um sólido candidato sob a batuta de Rúben Amorim. No essencial só saiu (até ver) um jogador imprescindível e os poucos reforços conseguidos são conhecedores da nossa competição e enquadram-se bem no perfil definido pelo técnico - jovens ambiciosos, determinados a vencer e a dar tudo em campo.
O FC Porto afinou mais ou menos pelo mesmo diapasão, saindo apenas Marega dos titulares habituais e entrando, até à data, três jogadores sendo apenas um brasileiro. Os azuis parecem finalmente apostar na juventude e na sua formação, onde existe qualidade - tal como no Sporting, Benfica, Braga e outros. O Benfica manteve a tradição de contratar lá fora mas foi o mais activo dos três crónicos candidatos e conseguiu "roubar" João Mário ao rival de Alvalade. Arrancou bem no acesso à Liga dos Campeões e é importante que consiga ir à fase de grupos. O Braga teve uma postura semelhante à do Benfica, vendendo Esgaio ao Sporting, clube que o formou, e acrescentando alguns reforços sobretudo vindos do estrangeiro. No essencial estas formações mantiveram-se estáveis e reforçaram-se pouco (a ver vamos se bem).
O que salta à vista é que não houve vendas de relevo e impacte financeiro (excepto no Braga e Benfica, mas neste caso muito longe da média de 100 milhões de euros de transacções conseguidas nos últimos 10 anos).
Das restantes equipas nacionais, Gil Vicente, Famalicão, Marítimo e Vizela são os campeões de entradas e saídas, com Boavista, Belenenses, Portimonense e Estoril a perseguirem aquele grupo na disputa do título do "grande transferidor". Nas saídas, a maior parte (75%) regressou aos países e clubes originais e boa parte destes pouca utilização teve por cá. Tal significa que as escolhas, muito centradas nos empresários e pouco nos departamentos de prospecção dos clubes nacionais, pouco acertadas foram. O que habitual e acontece época após época sem conserto nem emenda, com gastos que fazem rombo nos orçamentos.
Se o defeso foi morno por cá, que dizer dos poderosos europeus? Ao contrário de outros anos, as grandes contratações são a excepção, com os clubes ingleses praticamente sozinhos a gastarem à discrição. Com Espanha e Itália quase parados, começa a perceber-se que a estratégia dos "galácticos" de Real, Barcelona ou Juventus estava assente em pés de barro e as finanças estão no vermelho - graças também ao efeito covid, sejamos claros. Em Espanha a La Liga fez uma venda de 25% do seu activo (organização dos campeonatos profissionais, publicidade, marketing, centralização de direitos televisivos, etc) a um fundo por uma soma astronómica que vai distribuir pelos clubes espanhóis. Mesmo recebendo 200 milhões de euros a mais, o Barcelona lá viu que não conseguia continuar a brincar com a sobrevivência financeira e teve que deixar Lionel Messi escolher o seu destino. Algum clube italiano está disposto a arriscar o futuro? Os ingleses podem mas será que querem? Com Paris e Neymar a chamarem e o PSG com dinheiro árabe à discrição e sem cumprir fair play financeiro, talvez seja a solução para o argentino continuar a brilhar e os franceses conseguirem uma Champions. Nesta modorra europeia valha-nos a novela Messi!