REMATE DE PRIMEIRA - Um artigo de opinião de Alcides Freire, diretor adjunto do jornal O JOGO
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A maioria da população portuguesa está cada vez mais concentrada no litoral, 80 por cento aperta-se em 30 por cento dos municípios e 4 em cada 10 têm menos de 10 mil habitantes. Preocupado? Pois bem, 84 por cento dos concelhos perderam população. Estes são factos recentes, que ainda não chegaram aos livros de História.
A 13.ª edição do Grande Prémio O JOGO/Leilosoc, que este domingo terá em Paredes o palco final, não foi apenas uma prova de ciclismo. Não foi a Volta a Portugal, naturalmente, mas foi uma volta de cinco dias por um Portugal onde os grandes feitos e as suas gentes são tantas vezes esquecidos na sombra de um mediatismo, cujos holofotes teimam, ano após ano, em iluminar o lado mais luminoso de Portugal, debruçado, perigosamente debruçado, sobre o Oceano Atlântico.
Quatro das cinco etapas do GP O JOGO aceleraram até esse interior, esse território tantas vezes anunciado como “despovoado” ou “esquecido”, como se daquela vastidão já só sobrassem memórias. Não, não sobram apenas memórias: sobram histórias de resiliência a todos os níveis, de paixão pelo desporto, por exemplo, de crianças a vibrar pelos ciclistas que passam à velocidade de um sonho na estrada nacional. Foi assim em Belmonte, repetiu-se em Mêda e Trancoso, não foi diferente em Condeixa-a-Nova, Vila Nova de Poiares e Castanheira de Pera. Foi assim num país que se recusa a desistir só porque fica longe da autoestrada A1 ou onde o comboio deixou de parar. Um país que não quer compaixão, apenas igualdade de oportunidades para poder haver nessa vastidão concelhos como Paredes, onde, muitos anos depois do 25 de Abril, ainda o comboio parava poucas vezes e a autoestrada era uma utopia.
O Grande Prémio O JOGO podia ter escolhido apenas avenidas largas e rotundas de mil flores. Preferiu, mais uma vez, não ficar pela selfie óbvia e repetida em milhares de hashtags. Preferiu mostrar que Portugal é muito mais do que Lisboa, Porto e Algarve. Preferiu sair do óbvio, dizendo “presente” onde muitos dizem “não vale a pena”. Preferiu acabar em Paredes, um palco perfeito, mais perto dos tais holofotes, para dizer que há muito Portugal que merece tanto. O GP O JOGO passou por lá. E, ao contrário do que muitos pensam, não encontrou um deserto. Encontrou vida. E muita vontade de viver.