O que Portugal operou até hoje no ciclismo de pista é uma proeza única na história. Faz recordar os séculos em que as caravelas portuguesas partiam, também elas do zero, à descoberta
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Até 2009, Portugal não teve ciclismo de pista. Foi esse o ano em que se inaugurou o Velódromo Nacional, em Sangalhos, para no seguinte ser contratado Gabriel Mendes, um formado em Ciências do Desporto, por concurso. Tal como os ciclistas, o selecionador partia do zero. Em 2013 já chegavam as primeiras medalhas, nos juniores, pelos irmãos Ivo e Rui Oliveira. Em 2024, e segundo as contas de Gabriel Mendes, há um total de 65 pódios. Todos de qualidade, pois 58 deles são em Mundiais e Europeus, sendo o 59.º nos Jogos Olímpicos.
O que Portugal operou até hoje no ciclismo de pista é uma proeza única na história, um trabalho digno de estudo. Faz recordar os séculos em que as caravelas portuguesas partiam, também elas do zero, à descoberta do mundo que havia para descobrir.
O segredo do êxito tem nomes, naturalmente. Em primeiro lugar, Gabriel Mendes, um técnico que raramente se expõe publicamente – e por isso é tantas vezes esquecido –, mas que soube estudar, evoluir e formar em seu redor um grupo de jovens talentosos, que com ele foram crescendo. Metódico e disciplinador, o selecionador soube cativar os seus corredores para uma aventura que de início pouco prometia, mas que obteve resultados extraordinários além das medalhas: Ivo e Rui Oliveira são atualmente peças preciosas da UAE Emirates, a melhor equipa de ciclismo do mundo; Maria “Tata” Martins chegou ao World Tour do ciclismo feminino; Iúri Leitão, que em 2020 precisou da ajuda de Mendes e da Federação Portuguesa de Ciclismo para encontrar uma equipa profissional, é agora o orgulho da espanhola Caja Rural-RGA.
O ciclismo de pista português, que foi do zero à medalha olímpica em 15 anos, é um exemplo de que nos devemos orgulhar e seguir. Mendes e os seus rapazes provaram que, quando queremos e nos dão (o mínimo de) condições, não somos apenas capazes. Somos os melhores de todos!