PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 No campeonato, a matemática mantém a equipa acordada, mas é na Champions que a teoria dos estímulos atinge intensidade máxima.
O jogo com o Santa Clara era, por isso, mentalmente perigoso para o lado cerebral portista. No último segundo, um cabeceamento com... cabeça (por como teve calma e colocou o remate) de Toni Martínez, salvou o resultado num jogo em que, mais uma vez, Daniel Ramos mostrou como é dos melhores treinadores da época no plano do rigor tático de organização duma equipa. Seja em que tipo de jogo for, este Santa Clara posiciona-se bem e tira o melhor dos seus jogadores (da técnica organizadora de Lincoln à raça objetiva de Carlos Júnior).
Noutra realidade, os jogos com o Manchester City e a Juventus foram os que falaram a verdade mais sincera sobre o poder tático deste FC Porto de Conceição. Montando planos de jogo que (por passar mais tempo em organização defensiva do que em qualquer jogo do campeonato) nunca usaria na dimensão nacional, a equipa tem revelado grande poder de adaptação (sacrifício tático-mental) a essa outra realidade tática. Os jogos com o Chelsea serão mais desses casos.
2 É tentador olhar como Matheus Pereira lhe marcou os golos para ver as formas de derrotar o Chelsea. Pelo ataque à profundidade e pela execução técnica cirúrgica em espaço curto na área. São, de facto, dois pontos com "transfer" coletivo (e não só de ação inspirada duma individualidade).
O jogo com o West Bromwich (pela gestão do onze e inferioridade numérica) não é, porém, o melhor exemplo. Revejo os jogos com o At. Madrid (nos oitavos da Champions) e vê-se como é perigoso querer pressionar alto este Chelsea, tal a forma (fácil e simples no passe) como os "blues" saem dessa pressão desde trás, pela qualidade com que os centrais e pivôs (Jorginho e Kovacic) resolvem simples o passe de transição e lançam o ataque rápido. Para atacar-lhes as costas na profundidade, existe a esperteza estratégica de esperar mais atrás (com bloco médio). A expectativa antes da pressão.
3 Contra uma equipa muito forte no jogo interior e que mete velocidade nas alas através dos laterais, a cobertura permanente em largura e a capacidade de confundir (forçando a inverter) esses espaços de velocidade e força (tornando-os, respetivamente, mais lentos e menos intensos) será o primeiro passo para fechar bem o meio-campo.
Perante um Chelsea em 3x4x2x1, que ataca em "2x1" a opção pelo duplo-pivô, defendendo em "2x1", é o primeiro passo para defender melhor (encaixando) e, depois, em posse, poder... desencaixar pela capacidade portista de desdobrar o sistema (de 4x4x2 para 4x3x3 assimétrico-móvel) a atacar.
stes são os jogos que falam a verdade mais sincera sobre o poder tático do FC Porto de Conceição
Sozinhos em casa
Os sinais de intranquilidade duma equipa podem vir de diferentes lados. Vejo o V. Guimarães a sofrer frente ao contra-ataque do Tondela. A cada bola que perde, a equipa demora a reposicionar-se. A cada bola que recupera, hesita na opção a tomar. E, assim, o jogo encrava-se e o adversário, mesmo pequeno, cresce de tamanho. Ao mesmo tempo, André André grita com toda a equipa num sinal que junta o caráter com a impotência (em mudar o destino, a exibição, o resultado).
É perturbante ver o V. Guimarães jogar, sobretudo nos jogos em casa tal o valor que se pressente terem muitos dos jogadores, mas é clara a debilidade tático-mental em que vivem (e, com bancadas vazias, não existe a tese da pressão do seu público).
Custa entender como, melhor ou pior fisicamente, Quaresma não é titular indiscutível naquele onze tal a diferença que faz, no jogo e jogadas, quando entra (aumentando velocidade e seus centros/passes teleguiados). Lançar, neste contexto, dois miúdos de 18 anos na defesa (Hélder Sá, bom lateral-esquerdo, e André Amaro, central) é mais um risco do que oportunidade. Percebo a intenção de abanar o plantel, mas esta é a altura dos jogadores com as patentes mais altas assumirem responsabilidades. Neste cenário, João Henriques caiu naturalmente.