Paulo Bento identificou problema de mentalidade. E o que vem a ser isso? A Seleção deita-se no divã
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Aceitar a ideia de que Portugal tem mesmo um problema de mentalidade, como diz Paulo Bento, não chega como resposta, mas vale uma interrogação: o que significa isso ao certo? Paulo Bento abriu a porta do debate, e é bom que tenha sido ele a fazê-lo, porque Portugal anda a fugir da pergunta e a adiar uma sessão completa de psicanálise, provavelmente na ilusão de que, desviando-se dos problemas, eles podem desaparecer. Não desaparecem. Aliás, o que não tem faltado a esta Seleção é capacidade de problematizar: deixar o adversário marcar golos primeiro é uma chatice e, pelo que se viu ontem, marcar primeiro do que o adversário também pode ser; os jogos nunca são decisivos e depois há sempre uma calculadora na mão. Duas das muitas contradições e confusões que, misturadas, resultam no tal problema de mentalidade que é, acima de tudo, um equívoco de identidade: esta seleção faz gala de ser grande contra os grandes, mas teima em nivelar a escala do seu próprio tamanho ao dos adversários, conseguindo, ao mesmo tempo, ser tão ou mais pequena do que os pequenos em que vai tropeçando. Como Israel.
Os sinais estão à vista nos últimos resultados e nas fraquíssimas exibições, evidências que vão sendo sacudidas para debaixo do tapete, porque, numa esperança que ainda não está descartada, Portugal é um ferveroso devoto das repescagens. Quando falhar essa via, alguém há de lembrar-se de discutir a sério a falta de alternativas. Até lá, alguém faça o favor de explicar aos jogadores - e ao selecionador - que dizer que um adversário "só chegou três vezes à nossa baliza e marcou três golos", como todos se apressaram lembrar, não é coisa para deixar mal na fotografia o adversário. Pelo contrário.