HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Canta o leão que tens na alma
Um triunfo tático e da palavra. Sempre que Rúben Amorim fala, o mundo do Sporting pula e avança. No seu estilo de esplanada responsável, ei-lo a baixar as expectativas de Nuno Santos após este ter marcado um golo monumental. Porque sabe que ele vai para o banco frente ao Arsenal e há que evitar amuos. Depois, é a imprensa a ligar Amorim ao Tottenham: é aproveitar a polémica, transformá-la em estímulo e reforçar a crença do universo verde. Modo coração ativado. Tenho um bom contrato, gosto muito de cá estar. Estou convosco e, todos juntos, vamos lá seguir em frente.
A chegada de Rúben Amorim eliminou a nuvem de comentários avulsos que rondava o Sporting. E pintou-a com uma equipa coesa e destemida. Com determinação, foi ver os jovens leões a pressionarem alto o Arsenal e a obrigá-los a sair de forma atabalhoada. Foi ver Diomande a jogar como um veterano. Foi ver uma equipa solidária e sempre preparada para dar a volta por cima. E, depois de duas temporadas com 85 pontos, há almofada para uma liga menos conseguida. No fundo, é continuar a cantar com alma.
Ugarte: expulsão iminente
Sem Morita no jogo de Londres, o Sporting pedia um grande Ugarte para dar a tranquilidade necessária a um miolo desfalcado. Ugarte respondeu de forma tremenda e até na expulsão foi inteligente: a falta que fez parou uma perigosa transição adversária, numa das poucas vezes que os leões se desposicionaram em Londres. Com eficácia, dobrou os centrais sempre que necessário e evitou que o Arsenal provocasse perigo na exploração da profundidade. No início da segunda parte registou uma das melhores jogadas da partida, quando pegou na bola e foi por ali acima com toda a confiança do mundo. O Sporting vai sentir a sua falta na primeira mão frente à Juventus.
Marko Grujic não era ofensivo?
O FC Porto foi muito superior ao Inter e, valha a verdade, só não seguiu em frente por manifesta infelicidade. No jogo do Dragão, e sobretudo na ausência de Otávio, impunha-se alguém no meio-campo que oferecesse à equipa um duplo atributo: solidez defensiva conjugada com eficácia nos duelos aéreos; e capacidade ofensiva, principalmente aquela que oferece aquela saída em espaços densamente povoados. Se, no final da primeira parte, Grujic descobriu Evanilson e colocou-o na cara do golo, o pressing final quase que deu golo do melhor em campo dos portistas. Grujic cresce às mãos de Sérgio Conceição e mostra-se jogador para as partidas mais exigentes.
Fábio Ronaldo com os dois pés
Para os lados de Vila do Conde tem despontado um jovem extremo que demonstra excelentes qualidades individuais e com capacidade para ir muito mais além. E que impressiona pela forma fácil como joga com ambos os pés. Nos Açores, contribuiu para o golo inaugural após excelente pormenor individual que desmarcou Guga no momento certo. Frente ao Gil Vicente, na jornada anterior, cozinhou de forma magistral a jogada que originou golo de Costinha (também em bom plano), depois de ter inaugurado o marcador no seguimento de desmarcação precisa. Sem medo do duelo individual e dotado de muita imaginação, aos 21 anos pode sonhar com voos mais ambiciosos.
Martínez: a primeira convocatória
São notas a tirar da primeira lista de Martínez: um, a passagem para um sistema de três centrais, com predominância de esquerdinos; dois: a perceção de que o trabalho deixado por Santos é válido; três: podia ter falado em castelhano sem problema. Preferiu o português para mostrar compromisso total. Louvável e astuto.