SENADO - Um artigo de opinião de José Eduardo Simões.
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1 O DL 22-B/2021 estipula que a centralização de direitos audiovisuais tem que ser entregue na Autoridade da Concorrência até 2026 e ser posta em prática até 2028.
Os prazos podem ser antecipados, mas não ultrapassados, sendo interesse da esmagadora maioria de clubes que os prazos não se arrastem até ao limite, pois a cada ano as dificuldades são maiores e vão ficando mais fracos.
A única razão de um período tão alargado para a conclusão deste processo é a proteção dos poderosos. Benfica, Porto e Sporting, em conjunto, recebem praticamente o dobro da soma de todos os restantes clubes da 1ª e 2ª ligas. É obra! Por isso, quanto mais tempo a situação se mantiver, melhor. É interessante ouvir o jornalista e licenciado em Direito Económico Camilo Lourenço afirmar que a centralização, tendo como principal objetivo "diminuir a (enormíssima, digo eu) diferença entre os que mais ganham e os restantes", poderá ser um "desastre para o Benfica" e ainda que "clubes como o Sporting, Porto e Benfica não veem com bons olhos esta centralização", acrescentando ainda uma pepita como "agora, para os clubes mais pequenos, dá muito jeito". Há uma grande diferença entre dar jeito e ser justo. Entre competitividade real e regime de dependências, ao estilo dos senhores feudais e seus vassalos.
2 Como dou relevo aos resultados da aplicação das teorias económicas, de diferentes regimes fiscais e de regulação financeira, estranho que alguém esclarecido e de competência reconhecida esqueça exemplos do que se passou em Inglaterra, Alemanha, Itália ou na vizinha Espanha, onde Real Madrid e Barcelona vociferaram contra a centralização, com o mesmo tipo de argumentos de que seriam economicamente prejudicados e deixariam de se competitivos perante a forte concorrência nas provas europeias.
Apesar do voto contra do Real no que considerava ser a promoção da mediocridade, a centralização entrou em vigor em 2016. Os clubes mais pequenos recebem, em média, 30% do que auferem os maiores; aqui entre nós, não chega a 10% a relação entre o fundo e o topo. E em Espanha quais foram os impactos nacionais e internacionais? Nos 6 anos pré 2016 a La Liga foi conquistada por Barcelona (4 vezes) Real e Atlético de Madrid; nas 6 épocas pós centralização o Real venceu 3 edições, Barcelona duas e Atlético uma. Na Champions, nas mesmas 6 épocas pré 2016, Barcelona e Real ganharam duas vezes, cada qual, e Bayern e Chelsea levaram uma Taça para casa. Nas últimas 6 edições venceu 3 vezes o Real, tantas como Liverpool, Bayern e Chelsea em conjunto. Na Liga Europa, 4 vitórias de clubes espanhóis nas 6 edições anteriores a 2016, 3 conquistas nas seguintes. Será possível que ainda alguém consiga pensar, ou dizer, que a centralização faz "mal à saúde"?