Não se pode dizer que Sporting e Benfica esconderam ao que iam, mas na verdade leões ganharam “à Porto” e águias como “equipa pequena”.
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Na jornada de onde, previsivelmente, sairiam prendas natalícias para duas das quatro equipas do topo da classificação, devido aos confrontos diretos que prometiam mudanças, estas chegaram por vias enviesadas - com mérito dos vencedores, naturalmente, mas a reboque de curiosos casos de mudanças de personalidade. Curiosos mas, olhando em retrospetiva, talvez nada inesperados atentando às palavras dos treinadores de Benfica e Sporting, não só na véspera do respetivo clássico como nas semanas que o antecederam. Braga e Benfica foram os primeiros do top-4 a entrar em campo e se Artur Jorge dera conta de uma “ambição clara de somar três pontos”, prometendo investir todos os (amplos) recursos dos guerreiros na vitória, Roger Schmidt, nas entrelinhas, deu a “tática: “Temos de ser concentrados nos aspetos táticos, defender bem e mostrar de novo a nossa qualidade com bola no ataque”. Dito e feito, com o golo de Tengstedt, fruto dessa qualidade com bola, ironicamente, a carimbar o destino dos três pontos logo aos três minutos mas, sobretudo, a acentuar o cenário que ambos anteviram: vagas atrás de vagas atacantes dos minhotos rumo à baliza de Trubin (decisivo!) e umas águias “travestidas” de raposas, matreiras, aquarteladas no seu terço defensivo e de olho em contra-ataques rápidos. O Benfica vestiu a pele de “equipa pequena”, longe da pressão alta e futebol vistoso que lhe deu o último título - essa foi a vestimenta de um Braga que acabou por não conseguir materializar o domínio exercido na ansiada vitória.
No dia seguinte, no palco de Alvalade foi levada à cena uma versão atualizada e com maior dose de dramatismo baseada nesse argumento da troca de identidades. O tão debatido estofo de campeão e a mentalidade forte que, segundo Rúben Amorim, Sérgio Conceição incute como ninguém nas suas equipas foram exibidos, precisamente, pelos leões. Valeu a pena o treinador ter andado dias ou semanas a bater nessa tecla e, internamente, a martelar os jogadores para os tais pormenores que dizia faltarem sempre contra os portistas. Gyokeres é um poço de força e desequilibra como nenhum outro jogador em Portugal, tendo já “perdido a virgindade” das manhas do futebol português, um dos handicaps identificados por Amorim logo no início da época (veja-se o lance em que “arranca” o amarelo a Pepe e como, numa bola que saiu pela linha de fundo, o “castiga” no tendão de Aquiles...).
Ter um “arrombador de cofres” como o sueco é mais de meio caminho para o sucesso, mas a epítome da troca de identidades no clássico que definiu o líder do campeonato no Natal esteve em dois momentos: um foi a ovação à surpresa no onze leonino chamada Quaresma; outro, a reação infantil do mais experiente jogador em campo, Pepe, perante Matheus Reis, daqueles que até costumam ter “cabeça quente” em jogos grandes, num lance que em condições normais ter-se-ia saldado pelo amarelo (que ficou por mostrar) ao defesa dos verdes e brancos.
Quem não muda é o Moreirense, que pé ante pé se aproxima dos lugares europeus e desta vez com uma goleada ao Portimonense. Está a um ponto do V. Guimarães, que deixou dois no empate do sempre “rasgadinho” confronto com o Boavista.