VISTO DE ITÁLIA - Um artigo de opinião de Cláudia Garcia.
Gigio Donnarumma não renovou com o Milan por questões económicas e vai provavelmente disputar o Europeu pela Itália sem vínculo contratual com qualquer clube. Um grande risco.
O guarda-redes prodígio italiano - foi titular do Milan com apenas 16 anos - já tinha sido protagonista de um triste caso de Estado aquando a sua primeira renovação de contrato pelo Milan, em 2017.
Nesse ano, a telenovela durou o verão todo, porque o jovem que, naquela época tinha apenas 18 anos, exigia, pelo menos, seis milhões limpos por temporada para renovar. O seu agente Mino Raiola não só conseguiu o desejado salário monstruoso, como também garantiu que o clube italiano contratasse o irmão Antonio Donnarumma, modestíssimo jogador, como terceiro guarda-redes e com o salário de um milhão de euros limpos por época.
Este ano, Donnarumma júnior, por indicações do seu empresário, deixou o seu vínculo chegar novamente ao fim sem aceitar qualquer proposta de renovação do Milan. Só que, desta vez, a direção desportiva liderada por Maldini encerrou a telenovela ainda antes que ela começasse. No primeiro dia de férias da equipa, logo a seguir à qualificação do clube para a Liga dos Campeões, os rossoneri apresentaram à surpresa o novo reforço: o guarda-redes francês do Lille, Mike Maignan. A Donnarumma e a Raiola devem ter caído os queixos. Comenta-se que o rapaz estaria pronto a deixar o agente, mas sobre isso nada sabemos.
Donnarumma pretendia um salário de dez milhões limpos por época, mas o Milan não aceitou subir a sua última oferta de oito. Raiola, de acordo com a imprensa, pretendia uma comissão (que provavelmente dividiria com a numerosa família dos Donnarumma) de cerca vinte milhões de euros. O Milan seguiu jogo e garantiu um guarda-redes de ótimo nível sem ficar nas mãos do jogador.
Um exemplo do que os clubes devem fazer, porque estes casos são inaceitáveis. Donnarumma é um guarda-redes fantástico e o dinheiro é importante, sem dúvida, mas não pode ser o fio condutor de uma vida nem de uma carreira. Num ano difícil como este para milhares de famílias italianas e num país que ainda conta as mortes diárias por covid19 (são mais de 120 mil), ninguém se pode curvar a um jogador e um empresário que fazem birra por milhão a mais, milhão a menos. Mesmo que Donnarumma assine um contrato fantástico com a Juventus ou aceite dar um passo atrás e renove com o Milan - algo que não descarto -, o clube já saiu vencedor deste caso. Ganhou o Milan. Ganhou o futebol.
