São necessárias estratégias para atenuar os efeitos de um plantel deficientemente estruturadoCarvalhal no papel de bode expiatório
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Jogaremos hoje de tarde pela reconquista do nosso habitat natural, o 4.º lugar, contra uma espécie invasora que tem mostrado muita qualidade e competência competitiva, o Santa Clara. E sem perder de vista o nosso rival geográfico, sempre pronto a invadir o nosso espaço. E fazemo-lo num contexto de tensão interna, com os sócios e adeptos a multiplicarem declarações e opiniões públicas que, na esmagadora maioria, apontam para a substituição do treinador.
É normal esta forma de aliviar as tensões grupais e René Girard, um dos grandes pensadores da modernidade, consagrado como o “Darwin das ciências humanas”, com uma vastíssima obra que mistura a antropologia, literatura comparada, história das religiões, psicanálise e psicologia social, explica-o bem. Na sua teoria, desenvolveu dois conceitos centrais: o desejo mimético e o bode expiatório, que estão intimamente relacionados. Girard argumenta que o desejo humano não é autónomo ou espontâneo, mas imitativo. As pessoas desejam algo porque veem outras pessoas desejando o mesmo. Esse desejo não se origina no objeto em si, mas no modelo, ou seja, na pessoa que já deseja ou possui o objeto. Isso gera rivalidade, pois, ao imitar o desejo do outro, indivíduos acabam competindo pelos mesmos objetos ou objetivos, resultando em conflitos. Girard sugere que, para lidar com o conflito gerado pelo desejo mimético, as sociedades desenvolvem um mecanismo: o bode expiatório. Nesse processo, a tensão coletiva é desviada e projetada para um indivíduo ou grupo inocente, que é culpabilizado pelos problemas da comunidade. O sacrifício ou exclusão desse bode expiatório restaura temporariamente a paz social, pois a violência interna é canalizada contra um alvo comum. Girard demonstra, com profunda investigação histórica e antropológica, como o mecanismo do bode expiatório serve para manter a coesão social, funcionando como uma espécie de “válvula de escape” da comunidade.