Cartão do Adepto: afinal está tudo bem com as claques

Em setembro de 2017, a Assembleia da República alarmou-se com o "clima" no futebol e quis ouvir o presidente da Federação. Entre as propostas de Fernando Gomes estava um cartão, que a Rússia usara na Taça das Confederações e pretendia reeditar no Mundial"2018, para garantir que mantinha os seus "hooligans" fora dos estádios. A versão portuguesa, criada entretanto pelo Governo, era menos complexa (o cartão russo tinha de ser pedido para cada jogo, por exemplo).

Seria a solução? Talvez não. Não sei onde acaba a sabotagem e começam as reais dificuldades de aplicação. Mas era uma tentativa, e os partidos demagogos que hoje revogaram o Cartão de Adepto, na mesma AR, esqueceram-se de fazer essa pergunta aos clubes: isto vocês não querem, pronto; então o que propõem? Porque não é apenas o Cartão de Adepto que não serve. Todos os clubes com liquidez recorrem de qualquer castigo que lhes seja aplicado, seja ele com base nos regulamentos da Liga ou na Lei. Desligam ou adulteram câmaras de videovigilância para que os infratores não possam ser identificados e depois recorrem quando são castigados por isso. Recusam a mínima responsabilidade no controlo dos adeptos, mesmo aquelas que assumiram nos regulamentos votados, e sobrecarregam os tribunais com teses pioneiras. Na UEFA, aceitam tudo, como carneirinhos. Quem meteu a cunha à Iniciativa Liberal, ao PCP e ao Chega contou-lhes estas partes, enquanto partilhavam croquetes num camarote?

Em Inglaterra, há uma longa lista de clubes que expulsaram adeptos. Em Portugal, continuo à espera de um exemplo, já nem digo de um transgressor identificado pelos seus, mas pelo menos de uma acusação que os clubes não se limitem a negar, como sucedeu com o caso de racismo contra Marega, em Guimarães. Há mesmo muita coisa que o futebol profissional precisa da Assembleia da República, mas esta demagogia pacóvia não está na lista.