Cabe a Pepa perceber o que se passou
PONTAPÉ PARA A CLÍNICA >> Claro que ver para além do resultado não é só perceber quando a equipa é vítima do infortúnio. É também saber quando os números são mentirosos a nosso favor.
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1 - A figura central na estrutura de um clube de futebol é a do treinador. Ensanduichado entre dirigentes e jogadores, a ele cumpre a exigente tarefa de rentabilizar os recursos que lhe são disponibilizados. De os motivar, de os organizar, de os potenciar. Ele é a cara do sucesso ou do insucesso da equipa e quando as coisas correm mal está na linha da frente para ser o primeiro a sofrer as consequências.
O treinador vive com as malas à porta e sabe que palavras como "projeto", "paciência" ou "memória" são mitos urbanos no mundo da bola.
Ao longo dos anos, vi muitos passarem pelo meu clube. Lembro-me de ir assistir aos treinos liderados por António Morais e dos berros que ele atirava aos jogadores, os mesmos a quem no domingo seguinte punha a titular. Da famosa camisa branca de manga curta de Marinho de Peres e do seu estilo vibrante. Das inesquecíveis declarações de Quinito, a quem nunca ninguém ouviu um lugar-comum. Da saudável loucura de Cajuda e de outros misteres de estilo mais sóbrio como Luís Castro.
Em comum a todos eles: todos são escravos dos resultados. Pepa não é exceção. Aos dirigentes, esses, pede-se que consigam ver para lá do marcador, que percebam que o futebol é um jogo em que o acaso desempenha muitas vezes o papel principal. Em abono da verdade, há que dizer que a tarefa destes últimos está muitas vezes dificultada pela pressão dos adeptos, que vivem sempre no curto prazo.
Claro que ver para além do resultado não é só perceber quando a equipa é vítima do infortúnio. É também saber quando os números são mentirosos a nosso favor.
Pepa percebeu isso no final do jogo de ontem. E disse-o como deve ser, com a frontalidade que o caracteriza. Porque os três pontos sabem bem, mas não fazem esquecer uma exibição que foi das menos consistentes que o Vitória fez ao longo desta época. Desde o primeiro minuto que nunca demos a sensação de ter o jogo controlado. As sucessivas dádivas que íamos dando ao adversário faziam temer que a qualquer momento pudéssemos ser feridos.
Felizmente, os Deuses do futebol estiveram connosco e o Moreirense só por uma vez conseguiu colocar a bola no fundo das redes de Varela. Ao nosso mister cabe agora olhar para a exibição e perceber porque é que o nosso rendimento caiu face a exibições mais recentes. Pontos são pontos, mas nem sempre nos vão cair no regaço desta forma.
2 - De entre os jovens da nossa formação, havia um a quem ainda cabia dizer presente, dissipando qualquer réstia de dúvida de que o seu lugar é aqui, entre os mais crescidos. Foi o que André Amaro fez ontem. O defesa foi, de todos aqueles a quem cabiam tarefas defensivas, aquele que menos errou, aquele que mais consistência deu. Se alguém tinha dúvidas, elas terão sido dissipadas e o André apresentou a sua candidatura à titularidade pelo Vitória.