TÁTICA DO PROFESSOR - Jesualdo Ferreira, cronista de O JOGO, escreve hoje sobre a vitória do Benfica no Dragão, sob a batuta de Bruno Lage.
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1- Há muito mérito do treinador do Benfica neste percurso vitorioso. Foi Bruno Lage quem mudou o chip a esta equipa, quem lhe deu uma mentalidade vencedora, quem a alterou taticamente e a habituou a ganhar. A vitória de ontem no Dragão deve ser encarada também dentro deste quadro de nove vitórias consecutivas que, juntando aos percalços do FC Porto, permitiu recuperar sete pontos e estar agora dois à frente, com a vantagem de ter ganho os dois jogos, na Luz e no Dragão, o que pode vir a ser fundamental na hora de fazer as contas.
Esta dinâmica de vitórias pode ser interrompida? Claro que sim, ainda há muitos pontos em disputa e o campeão não ficou decidido ontem. O FC Porto continua a ter uma palavra muito importante a dizer e com certeza que vai lutar até ao fim por conquistar de novo o campeonato, mas é inquestionável que o Benfica se colocou numa posição privilegiada para ser o melhor candidato nesta altura e, há que dizê-lo, com esta dinâmica é fácil concluir que presentemente está melhor que o FC Porto.
2- Falando um pouco do jogo, não se pode dizer que tenha sido espetacular, ou ao nível do que valem as duas melhores equipas portuguesas da atualidade. Foi emotivo, teve golos, podia ter tido mais, porque principalmente o FC Porto criou várias situações flagrantes para marcar, foi dominador, mas não encontrou os melhores caminhos para marcar mais golos do que o Benfica. Ficou a sensação, a determinado momento, de que o FC porto acusou mais do que o Benfica a pressão do jogo. E se calhar estará aí a chave para compreendermos o porquê de alguns momentos de menor serenidade, de uma equipa que até tem experiência, principalmente se tivermos em grau de comparação a juventude do eixo defensivo benfiquista, que muitos pensaram que não iria aguentar a pressão de jogar num ambiente adverso.
"O campeonato está assim resumido a uma luta a dois, como tantas e tantas vezes acontece no futebol português"
O resultado final não se ajusta ao domínio portista ao longo do jogo, com maior incidência, naturalmente, quando ficou em superioridade numérica, por expulsão de Gabriel, que até é um elemento muito importante nas rotinas defensivas do Benfica, mas a verdade é que a equipa continuou compacta, muito junta a defender, consciente da importância de não sofrer. Saiu vivo, e bem vivo, o Benfica desta deslocação ao Dragão.
3- O campeonato está assim resumido a uma luta a dois, como tantas e tantas vezes acontece no futebol português. Dificilmente o Sporting conseguirá reentrar na luta e o Braga acabou por se afastar, naturalmente, estando em risco até a sua passagem à final da Taça de Portugal. No fundo, o Braga continua sem conseguir resolver um problema: ser melhor do que os crónicos candidatos ao título. É nos jogos com os grandes que a equipa falha a resposta. Falhar faz parte do crescimento, mas por isso mesmo é que se deve ter cuidado quando se eleva a fasquia da exigência a Abel Ferreira.
Há dias, o treinador do Braga disse que já tentou de tudo para ganhar a FC Porto, Benfica e Sporting. É uma espécie de confissão de inércia, porque é difícil destruir uma série de forças que os outros já têm no sangue e que o Braga ainda procura. É uma tarefa que não se vence do dia para a noite, são precisos anos, ou então uma conjugação de fatores favoráveis que permita ao Braga chegar onde quer, ao título. E há de chegar, com paciência, com muita paciência.