PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 É comum os treinadores das equipas grandes, quando defrontam as ditas pequenas, fechadas atrás, queixarem-se, no fim de jogos de ataque continuado, da falta de espaços.
São análises que, explicando o óbvio, ignoram que, no fundo, o futebol é um jogo de fechar e abrir espaços.
Mais do que criticar a postura defensiva adversária, reconhecem a incapacidade criativa da sua equipa para abrir espaços. Porque mesmo nos casos de coberturas mais rigorosas, existe sempre um espaço por natureza vazio: o espaço aéreo.
Vendo como o Sporting chega tantas vezes ao golo, como no lance do 0-1 em Paços Ferreira, com Coates e Gonçalo Inácio a ganhar e a trocarem a bola nas alturas, percebemos como se entra nesse espaço aéreo livre para quem souber chegar mais alto. Mesmo que o posicionamento adversário esteja certo isso pode não bastar.
Jorge Simão reconheceu-o. Sabia que tal ia acontecer, fez as marcações mas, mesmo assim, sofreu o golo. Disse mesmo que destacara Flávio Ramos (1, 91m) para marcar Coates (1, 96m). A razão não foi, claro, essa diferença de cinco centímetros. Foi a leitura do lance sempre mais rápida de Coates e a sua exímia técnica de cabeceamento no ataque à bola no espaço que criou (ou melhor, invadiu) e por natureza estava vazio aguardando apenas por quem lhe pudesse chegar.
2 Outra noção de perceção da ocupação dos espaços esteve na base da derrota do Braga na Luz. A ambição de querer (por identidade) pressionar alto fez subir o seu bloco em excesso perdendo o controlo da profundidade (por outra palavras, perda de controlo do espaço nas costas da linha defensiva, demasiado subida).
Deu, assim, ao Benfica a exposição espacial de que gosta para lançar o ataque rápido nesses últimos 30 metros, sobretudo com Rafa ou Darwin, mais os laterais sempre a subir, dando-lhes latifúndios de contra-ataque quando, ao invés, o ataque encarnado costuma sofrer contra equipas com bloco mais recuado que o obriga (retirando espaços e fazendo o campo pequeno) a ataque organizado posicional.
3 Antes de ser uma questão física, como disse Carvalhal, foi uma questão tática porque todas as lacunas de cobertura e timing de pressão do bloco bracarense surgiram cerca dos 30 minutos (ou seja, muito antes do tempo de jogo poder provocar o desgaste de que falou). Surgiu por erro de cálculo de estratégia tática em nome da identidade de pressionar como equipa grande na casa duma maior, que embora em crise tinha ativado (apesar de nervosa com as dificuldades de início do jogo) esses radares de saída em ataque rápido.
Em dois jogos, dois ângulos de visão dos espaços. Do princípio aéreo da "girafa" Coates (nas alturas) à velocidade liberta do "rato" Rafa (rente a relva).
A derrota de maior qualidade
É dos casos mais evidentes em que jogo e resultado podem mesmo viver em locais opostos. Organizado por João Henriques, o Moreirense estendeu-se em Guimarães a toda largura do terreno, com laterais-alas a atacar (Paulinho e Conté) e três médios (F. Pacheco-Ibrahima-Franco) a cobrir e pressionar no centro.
No plano de jogo (em 4x3x3), escondia um segundo ponta-de-lança, o esguio Derik Lacerda, a partir do flanco esquerdo, com liberdade para surgir no meio (junto do nº 9 Rafael Martins) ou combinar com o lateral Conté. Assim, confundiu as marcações vimaranenses (sobretudo do lateral Sakho). Pegou no jogo e criou muitas oportunidades (que tanto batiam no poste, como eram defendidas por Bruno Varela).
Uma grande exibição que ainda desmontou, na estatística, o mito duma equipa ser mole quando não faz faltas. A provar isso, o dado surgido na segunda parte, em pleno período do seu domínio de recuperação, posse e ataque, no qual se dizia que já não fazia uma falta há 35 minutos. Uma postura que, afinal, prova que a verdadeira (boa) agressividade é aquela que uma equipa sabe ter com a bola (para invadir, atacando, espaços com ela). Como fez este Moreirense, sempre taticamente completo em todos os setores.
Perdeu no resultado, mas ganhou no campo todo em termos de qualidade de jogo.
Modelos
Handel: bola redonda
Tem no conteúdo e no método, tudo o que faz a matéria e estilo dum médio-centro nº 6 de equipa grande. Com 20 anos, Tomás Handel revela uma maturidade tecnicista de saída de bola com cabeça levantada que ilumina toda a equipa desde trás em condução ou passe com o pé esquerdo. Jogou sempre em Guimarães e está também na seleção sub-21. Podem dizer que é frágil nos lances divididos, que ele dribla essa questão com a mesma facilidade com que lê espaços em antecipação e sai a jogar.
Tácticas: Boavista
É difícil ver saída para João Pedro Sousa no Bessa querendo manter o seu modelo de jogo. Embora recuando mais o bloco (prescindindo da pressão alta), revela uma incapacidade tática para jogar só com dois médios (Pérez-Makouta), pois é impossível essa dupla, à frente da defesa, ocupar tanto espaço de terreno. Ficam, por isso, protegendo a equipa (e a eles próprios) atrás a defender. Lutam por todas as bolas, mas o setor perde capacidade tática de discutir o jogo. Limita-se a resistir. Com Sauer mais por dentro atenua esse deficit, mas o onze (feito a partir do 3x4x3) não tem rotinas táticas para neste momento jogar assim. Veremos nos próximos jogos.
Diogo Pinto: talento
Um talento a afirmar-se na Amadora. Com 22 anos, Diogo Pinto despontou nos sub-23 do Benfica mas logo saiu para Itália (Ascoli) onde estava desanimado (já no Potenza). Voltou para o Vilafranquense e foi para o Estrela. É, na essência, um criativo com perfil de nº 10, mas joga como médio-ofensivo. Um interior rompedor que é quase segundo-avançado, oportuno a surgir a rematar e com visão no passe e desmarcações. Com técnica, velocidade, foge às marcações e inventa lances de golo.
A derrota de maior qualidade
É dos casos mais evidentes em que jogo e resultado podem mesmo viver em locais opostos. Organizado por João Henriques, o Moreirense estendeu-se em Guimarães a toda largura do terreno, com laterais-alas a atacar (Paulinho e Conté) e três médios (F. Pacheco-Ibrahima-Franco) a cobrir e pressionar no centro.
No plano de jogo (em 4x3x3), escondia um segundo ponta-de-lança, o esguio Derik Lacerda, a partir do flanco esquerdo, com liberdade para surgir no meio (junto do nº 9 Rafael Martins) ou combinar com o lateral Conté. Assim, confundiu as marcações vimaranenses (sobretudo do lateral Sakho). Pegou no jogo e criou muitas oportunidades (que tanto batiam no poste, como eram defendidas por Bruno Varela).
Uma grande exibição que ainda desmontou, na estatística, o mito duma equipa ser mole quando não faz faltas. A provar isso, o dado surgido na segunda parte, em pleno período do seu domínio de recuperação, posse e ataque, no qual se dizia que já não fazia uma falta há 35 minutos. Uma postura que, afinal, prova que a verdadeira (boa) agressividade é aquela que uma equipa sabe ter com a bola (para invadir, atacando, espaços com ela). Como fez este Moreirense, sempre taticamente completo em todos os setores.
Perdeu no resultado, mas ganhou no campo todo em termos de qualidade de jogo.