PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha
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Todo o vitoriano sente que o seu é um clube permanentemente adiado, com um potencial gigante para atingir outros patamares, mas que sistematicamente fica aquém deles.
Esta perceção torna-nos mais ansiosos, menos racionais, mais e mais exigentes com quem nos dirige, e leva à criação de um ambiente avesso ao sucesso. Um ciclo vicioso de que não nos temos conseguido livrar.
A sensação é agravada pela trajetória a que vamos assistindo quando olhamos para outros emblemas que, com menos potencial, alcançaram feitos com que nós apenas sonhamos. Nas décadas de 1990 e 2000 foi o Boavista, mais recentemente tem sido o nosso vizinho Sporting de Braga. Sendo casos diferentes, ambos demonstraram que é possível chegar a outros patamares.
Quando eu era miúdo, ganhar ao Braga era uma coisa normal e natural. Eram eles que estavam um degrau abaixo do nosso. Nos últimos anos, as coisas inverteram-se e as nossas dificuldades contra os arsenalistas têm sido evidentes. A estatística não é bonita para o nosso lado.
E, no entanto, os vitorianos não desistem, não baixam os braços, acreditam sempre. E isso, que é lindo, é o que nos distingue dos outros emblemas.
Para mais, no futebol, cada campeonato é um renascer e uma promessa de páginas gloriosas à espera de serem escritas. Este mesmo, que ainda agora começou, não foge à regra. Assim, vamos a Braga cheios de esperança, alicerçados na convicção de que o Vitória tem uma boa equipa, que joga bem e que só por infelicidade não se desloca à Pedreira à frente do rival.
Para já, o outro dérbi, que decorreu na passada sexta-feira, entre as equipas B, abre boas perspetivas. Não pelo resultado, que até foi lisonjeiro para os bracarenses, mas por ter demonstrado que o Vitória vem trabalhando bem na sua estrutura do futebol jovem.
A equipa B está repleta de talento e deixa água na boca. Vi o jogo, e havendo alguns que se destacam, gostei de todos os jogadores. Se analisarmos bem o trajeto de cada um deles, percebemos que o Vitória está a seguir o caminho certo, alargando a base de recrutamento, formando localmente, estando atento a jovens que se destacam noutras equipas nacionais e estrangeiras.
Assim é que o Vitória conta com jogadores que por cá fizeram praticamente toda a formação (Hélder Sá, Gui), outros que fomos recrutar, ainda muito jovens, a outros emblemas de menor dimensão (André Amaro, Herculano) outros que cá chegaram já no final do seu percurso formativo, com passagem pelos três clubes do regime (Celton, Miguel Maga, Dani Silva, Gonçalo Gomes) outros ainda que o Vitória descobriu no estrangeiro (Tounkara e Nélson Luz) ou com idade sénior nos clubes da nossa região (Welton).
Uma mescla já está a produzir resultados, simbolizados na chamada de três jovens à seleção: o já mencionado Celton e as certezas André Almeida e Tomás Händel.
Isto prova que podemos estar confiantes no futuro e que, se trabalharmos bem, podemos mesmo virar a tal página. E que tal se começássemos hoje mesmo?