PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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É normal. Vemo-los jogar com a nossa camisola e de repente são como da nossa família. São os nossos heróis em campo. São os "nossos" e por isso (e por definição) não podem ser os "deles".
Mas não são todos iguais. Alguns, seja porque por cá começaram ou porque estiveram connosco em determinados momentos, são ainda mais nossos. Até um dia.
De uma maneira ou de outra, já todos sentimos isto. Sentimo-lo com o coração, porque a nossa cabeça sabe que as coisas não são bem assim. Os jogadores são, acima de tudo, profissionais e a história do amor à camisola está hoje nos livros de história, ou então reservada a finais de carreira, quando já se ganhou o que se tinha a ganhar e as prioridades podem passar a ser mais emocionais.
Por tudo isto, a notícia de que Paulo Oliveira ia assinar pelo Sporting de Braga não me abalou, nem me surpreendeu. Do ponto de vista da sua gestão de carreira é uma opção normal. Não me lembro se na altura da saída houve juras de amor, mas, ainda que tenha havido, sabemos bem o que isso vale nos dias de hoje: nada. Mas, de uma maneira ou de outra, não critico nenhum jogador que procura o que pensa ser melhor para a sua vida e para a sua família. Têm todo o direito de o fazer, e a vida continua para todos.
Mas o que aconteceu com o vídeo de apresentação do agora jogador bracarense é outra coisa. Antes de mais, importa dizer que a "bicada" ao Vitória contida no vídeo é por demais evidente, pelo que tentar negá-lo ou é reserva mental ou sonsice. Isso diz alguma coisa do rival e muito mais do próprio jogador.
Do rival diz que, apesar dos êxitos, dos sucessos desportivos, de épocas sucessivas em que, para mal dos nossos pecados, tem estado melhor do que nós, continua a ter um complexo de inferioridade indisfarçável. Lembrei-me de umas célebres declarações do seu presidente, feitas há alguns anos, a propósito da qualidade dos adeptos de uns e de outros. É que há coisas que não se conseguem assim, estalando os dedos.
Já o jogador, prestou-se a um papel desnecessário. E era mesmo desnecessário, porque certamente ninguém lhe apontou uma pistola à cabeça para entrar na dita película de gosto duvidoso. Assim como ele é livre de assinar por quem muito bem entender, também o devia ser para dizer: "Meus amigos, tenham lá paciência, mas isso não vou fazer."
Não foi assim. Mas também não façamos disso um drama, nem mais do que realmente é. Felizmente, por esta casa já passaram muitos e muitos atletas que sempre mostraram um respeito enorme pelo nosso emblema, antes, durante e depois de por cá andarem. Todos esses ganharam um lugar no nosso coração. Nuns casos um lugar de destaque, noutros um lugar mais discreto. Mas todos cabem cá dentro. Só esses importam, e são esses que temos de, cada vez mais, valorizar.