Opinião de Nuno Correira da Silva
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Todos os anos, a época de transferências oferece novelas sobre entradas e saídas de jogadores. Este ano, os holofotes focaram-se em Gyokeres. É compreensível, foi o jogador mais diferenciado de toda a liga, marcou 39 golos (foi duplamente bicampeão, repetiu a vitória no campeonato e como melhor marcador) e deixou o segundo classificado a 20 golos de distância.
A Sporting SAD, através da sua administração, fez saber que aceita negociar abaixo da cláusula de rescisão, mas coloca a bitola nos 80 milhões. É um valor razoável, tendo em conta operações que já se concretizaram com outros jogadores, de valor equivalente ou mesmo inferior. Mas, mesmo que o retorno financeiro seja justo, é sempre triste ver partir os que mais se evidenciaram.
Afastar os fundos de investimento deixou as ligas espartanas com menos meios
Para uns até pode ser motivo de orgulho, bater recordes de valores de vendas, mas é impossível ignorar o amargo que deixa, a sensação de que continuamos num segundo nível, que somos uma plataforma para chegar às melhores ligas, mas não fazemos parte delas.
A diferença dos valores movimentados nas principais ligas e a Liga Portugal é abissal e não tende a melhorar, pelo contrário, tem-se agravado. Segundo a Deloitte, a Premier League atingiu, na época 23/24, um recorde em receitas agregadas, de 6,3 mil milhões de libras. A La Liga moveu, em 23/24, uma quantia próxima dos 5 mil milhões de euros e, no mesmo período, a Liga Portugal ficou-se por mil milhões.
São diferenças que nos levam a questionar se a FIFA agiu bem ao afastar os Fundos de Investimento da indústria do Futebol. Em 2015 foram proibidos os TPO (Third-Party Ownership), com a justificação que a participação de terceiros no valor do “passe” dos jogadores abria portas a influencias dos investidores junto dos treinadores, pressionando-os para darem prioridade aos jogadores que detinham.
O mesmo raciocínio poderia ser aplicado aos contratos de agenciamento, também os agentes poderão pressionar os treinadores para privilegiarem os jogadores que representam, todavia, quanto a isso nada foi feito.
Afastar os fundos de investimento deixou as ligas espartanas com menos meios para enfrentar as ligas mais ricas. Os Fundos procuram a valorização do seu investimento, ligas pequenas podem apresentar fortes índices de valorização, como é o caso da Liga Portugal, sendo Gyokeres um bom exemplo. Todavia não podem recorrer a fundos porque a FIFA não permite. Se permitisse, talvez Gyokeres não fosse vendido.