PLANETA DO EUROPEU - A análise e opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 - Os profetas táticos já estão mais descansados com Bernardo Silva. No jogo contra a França já foi possível vê-lo a defender, a fazer faltas, a correr atrás do extremo (e até do lateral) adversário. Agora sim, teve intensidade e rigor tático. Até soube pressionar.
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Ouço e leio todas estas análises e, confesso, fico perturbado. Claro que um jogador deve perceber os quatro momentos do jogo obedecendo à sua natureza inquebrantável e interligadas nas transições entre ataque-defesa-ataque, e, assim, participar por completo em todos, mas quando o ponto chave para avaliar o jogo de um criativo desequilibrador que faz com a bola coisa que mais ninguém faz no nosso onze é o que ele faz sem ela atrás dos adversários, sinto que estou a ver o mundo ao revés.
2 - Ronaldo é, sem duvida, o nosso herói, mas ver tantos encómios à sua corrida (distância e velocidade) de uma área à outra para chegado lá encostar e fazer o golo, e não ouvir o mesmo (ou próximo) para quem trabalhou antes toda a jogada no pensamento e execução como o fez Bernardo Silva na ala esquerda, lendo na perfeição os espaços, controlo e medida do passe preciso (que Jota respeitou, dando para Ronaldo) é sentir/ver o mesmo jogo com outros olhos. Antes da corrida, o pensamento. Antes do físico, a criatividade. Foi assim num jogo em que acabaram a pendurá-lo numa corda por não acompanhar o lateral adversário. Nem sei se teria essas ordens e, como é dos livros, o que faltou verdadeiramente foi nesses momentos o médio-centro meter-se entre os centrais (para o nosso lateral poder fechar em largura). Sei que, para mim, ponto de partida para a avaliação do seu jogo estará sempre no seu traço criativo, na técnica com visão tática nas boas opções que toma. É este jogar criativo do Bernardo que deve ser potenciado e elogiado. Valorar a sua exibição por pressionar, defender e fazer faltas é negar o futebol.
(P.S. - ganhar ou perder é outra questão).
3 - O 4x3x3 de Portugal ganhou o músculo e rigor que tanto queriam os desígnios físico-táticos da crítica nacional. Melhorámos porque pressionámos melhor, dizem. Talvez seja mesmo este o futebol que a nossa seleção deve fazer. Num torneio curto "resultadista", dizem que "estes jogos não se jogam, ganham-se". Mas, pergunto, como se ganha antes de jogar?
Existirá sempre uma (des)identificação com o que acontece até modificar as aspirações mais primárias. O jogo endurece, não diverte, mas o vírus tático da intensidade ataca o mais básico do melhor futebol e apenas está concentrado no resultado. Se perdermos, o "resultadismo" continua a ser... "resultadismo"?
Tática:
- Deve-se pressionar para jogar e não jogar para pressionar
- Onde e quando entram os criativos no 4x3x3 de Portugal?
Técnica:
- Antes da corrida, o pensamento. De Ronaldo a Bernardo. O golo ou a jogada
- Brozovic e Busquets. Os n.º 6 que constroem antes de pressionar