De Jesus a Amorim, qual jogará mais na expectativa?
Corpo do artigo
1 - O horizonte de acabar um campeonato invencível. Do que seria um sonho utópico no início da época a dois jogos de distância de o realizar, já com o título conquistado.
O dérbi do orgulho encarnado ou da inicial utopia leonina de ser campeão invencível. De Jesus a Amorim, qual jogará mais na expectativa?
Nesta viagem futebolisticamente sobrenatural, o Sporting construiu para si essa porta para a eternidade que só tem três exemplos no passado e nem sequer nenhum deles voa até aos mais remotos tempos dos divinos cinco violinos sportinguistas. Esta é uma propriedade dupla-privada de Benfica (uma vez) e FC Porto (duas). O desafio de ver este sonho leonino confrontado num dérbi na Luz pode tornar histórico um jogo que, nos registos da época, seria (quase) só para cumprir calendário.
2 - Jesus diz que sabe por que o Benfica não foi campeão. Di-lo com a segurança de quem o tinha facilmente ganho se não fossem fatores externos (o mundo covid) que fizeram com que os jogadores como que não tivessem tempo de aprender as lições de futebol que ele tinha para lhes dar.
Amorim também conheceu esse mesmo mundo mas não pretendeu ensinar assim tantas coisas táticas aos seus jogadores que escolheu, cirurgicamente, para um modelo (e sistema) de jogo planeado desde o início e no qual nunca mexeu substancialmente. Simplificou a complexidade do conhecimento e ganhou com isso. Jogo atrás de jogo.
Este dérbi não deverá, por isso, fugir muito desse "chip leonino" atrás da linha da bola, base do seu processo defensivo, sem dilemas estéticos em estacionar em bloco baixo. Será esse tipo de Sporting que irá aparecer na Luz? Numa atitude inicial, acredito que sim. Depois, veremos os passos que poderá ir dando taticamente em frente (contar os metros que pode subir em posse João Mário será uma boa forma de perceber esse avanço, ou não, da estratégia leonina).
3 - Tenho, no entanto, na mente a forma mais de expectativa e contra-ataque com que o Benfica recentemente defrontou o FC Porto e quase ganhava o jogo dessa forma. Entre ter sido mesma essa a ideia estratégica de Jesus ou tal ter sido forçado pela superioridade de pressão do jogo portista, estará a verdade sobre o estado tático em que chega este Benfica de Jesus (com aulas táticas incompletas) ao final da época.
Se voltar a apostar (seja em 4x4x2 ou no sistema dos três centrais) numa postura mais de espera (atrair o adversário) irá ter agora uma dificuldade extra: é que este Sporting, ao contrário do FC Porto, não sai assim de trás para pressionar. Também gosta de esperar e, depois, só sair para caçar no momento certo. Pode ser um dérbi com as equipas fechadas em si próprias. Cabe ao Benfica abrir essa caixa forte tática.
Um dérbi do orgulho encarnado ou da utopia leonina. Eis uma boa forma de olhar para este jogo de fim de época.
Jogando no precipício
A luta pela fuga à descida atinge níveis dramáticos nos últimos dois jogos. Da raça da pantera Elis, que sozinho luta contra todos os defesa adversários. até ao esforço caxineiro de Coentrão, quase sempre à beira de um ataque de nervos em campo (até quando fica os últimos minutos no banco, sofrendo) estão duas boas imagens para seguir os jogos de Boavista e Rio Ave, as equipas hoje no limbo da descida e do play-off.
O Nacional lutou muito com o possante Riascos na frente mas as contradições no onze já vêm muito de trás na época. O Farense do tecnicista trocista Ryan Gauld ainda sonha, mas os erros defensivos que tem cometido não têm respeitado o bom futebol que faz ofensivamente. O Portimonense voltou ao local de sofrimento após um jogo (contra o Moreirense) que perdeu muito pela forma como o quis... ganhar. Terá agora agora o confronto direto com o Boavista, soltando o talento goleador de Beto, que não é só remate. Tem técnica com bola a atacar a baliza.
Tudo razões para, no meio do drama, seguir o prazer do futebol jogado no precipício.