Paulo Faria explica, em mais uma crónica, as debilidades do plantel encarnado face rivais mais fortes e equilibrados como Sporting e FC Porto.
Como já tinha referido no último artigo, a luta pelo título deste campeonato estava reduzida a duas equipas, o que ficou confirmado pelas duas derrotas seguidas do Benfica de Carlos Resende.
Se a derrota no João Rocha, com o Sporting, já seria previsível, a derrota em Braga, além de inesperada, mostrou um comportamento em campo de alguns jogadores do Benfica que será difícil de explicar.
O ABC mais limitado de toda a sua história desde que está na primeira divisão conseguiu vencer, de forma surpreendente, e tenho que dar os parabéns ao Jorge Rito e Carlos Ferreira pelo resultado.
Mas perceber o porquê de o Benfica não estar na luta do título nacional, e ainda estamos em dezembro, tem para mim duas justificações:
Primeira
Efetivamente, Sporting e o FC Porto têm plantéis mais fortes e equilibrados, digamos que melhor construídos, e por isso têm naturalmente melhores resultados.
O Benfica possui uma primeira linha demasiado assimétrica, com características físicas individuais limitativas para o alto rendimento. Uma equipa pode ter jogadores com medidas antropométricas que não cumprem as referências ideais para a prática do andebol, mas devem ser em número reduzido.
O FC Porto tem Rui Silva e Miguel Martins com menor envergadura na primeira linha, mas depois conta com André Gomes, Fábio Magalhães, Djibril M'Bengue e Yoan Balasquez para equilibrar.
O Sporting tem Ruesga e Carneiro, mas também tem Edmilson Araújo, Pedro Valdés, Frankis Carol, Marko Vujin e Nemanja Mladenovic, além do romeno da ponta direita, que defende muito bem a "segundo", permitindo a Thierry Anti colocar Ruesga a defender na ponta.
Segunda
Isto obriga a demasiadas adaptações. Tendo Belone, Seabra, Grilo, Nyokas, Djordjic e Romé Hebo, nenhum destes primeiras linhas pode defender 6:0 nas posições centrais.
É isso que obriga Carlos Resende a fazer permanentemente duas a três substituições ou a defender sempre 5:1.
Como todos sabemos, o sistema defensivo 5:1 precisa, entre outras exigências, de envergadura, por ser um sistema mais aberto, em que cada jogador é responsável por mais espaço defensivo. Ainda por cima, com as novas regras, há ataques de 7x6 frente a um Benfica que é obrigado a usar ao mesmo tempo, a defender, Carlos Martins, Belone Moreira, Pedro Seabra, Nuno Grilo, João Pais e Carlos Molina; isto é manifestamente insuficiente.
Um simples livre de 9 metros obriga os jogadores a recuar e todos percebem que nem Belone, nem Nyokas, nem Grilo, nem Moreno, nem Seabra vão ter grandes possibilidades de parar pivôs como Iturriza, Alexis, Salina, Tiago Rocha e muito menos Luís Frade.
No jogo com o Sporting, o Benfica apresentou a sua melhor defesa, mas só a pode usar se fizer três substituições, e isso quer dizer que, quando estiver a atacar e perder a bola, não vai puder usar os seus melhores jogadores a defender.
A complexidade da construção de uma equipa implica analisar todos os equilíbrios obrigatórios para se lutar pelo título, e o Benfica tem equipa, os jogadores são unidos e empenhados, mas alguns deles não podem jogar juntos, porque podem ganhar a maioria dos jogos mas não ganham os jogos que são necessários.
O Benfica deve olhar urgentemente para estes desequilíbrios e começar a pensar no futuro, se quer jogar de igual para igual com Sporting e FC Porto.
