SENADO - Um artigo de opinião de José Eduardo Simões.
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O termo é usado no poker, quando um jogador coloca todas as fichas na partida obrigando os adversários a acompanhar e ir a jogo com tudo o que possuem, ou a desistir, perdendo o que puseram na mesa até então.
Quem faz all in pode ter um conjunto de cartas (a "mão") muito forte, mas também estar a fazer bluff. Como em qualquer actividade ou modalidade desportiva, sem meios - o vil metal - é mais difícil ir a jogo com sucesso contra quem tem poder e dinheiro abundante.
O Benfica de Rui Costa detém força e dinheiro e parece disposto a usar tudo para fazer all in sobre os rivais, que acha estarem sem força suficiente para lutar no campeonato. É quase uma repetição do que Luís Filipe Vieira e Jorge Jesus tentaram há uma década para quebrar anos de domínio quase absoluto do Porto. A grande diferença foi que Vieira não manteve a "pressão alta", deixou de investir em bons jogadores e, após 4 títulos consecutivos, permitiu aos adversários (com menos meios mas muita fibra) recuperarem ânimo e vencerem de novo. E com isso esfumou-se o sonho do penta.
Olhando para trás, julgo que Vieira talvez tenha sido vítima da sua própria sobranceria. Tinha os rivais à mercê e decidiu diminuir encargos (com bons jogadores) e maximizar lucros da aposta numa formação repleta de talentos que, achava ele, era suficiente para abastecer a equipa principal e manter a supremacia. Se o equívoco saiu caro ao Benfica (2 títulos nas últimas 6 épocas), uma análise fria permite concluir que é preciso bem mais que uma formação de grande qualidade para se estar no topo e vencer. Será uma condição necessária mas não suficiente. Um poker de risco e bluff em que a probabilidade de um all in sair vitorioso é baixa. Rui Costa tem boa memória e percebeu que, se quer dominar, tem que gastar o necessário (muito) mas bem.
Ou seja, manter o núcleo duro, acrescentar qualidade comprovada e enquadrar os melhores talentos do Seixal, permitindo o seu crescimento sem exigência e pressão descabidas. Está a tentar a receita certa de experiência de qualidade e juventude valiosa, no que se pode considerar um all in assente numa "mão" forte. Os rivais estão em dificuldades? Vamos aproveitar e dar tudo. O futebol não é poker e depende de muitas variáveis. Vamos ver se a aposta resulta pois hoje o sonho do bi, tri, tetra ou o inédito penta, ou de uma final europeia é apenas isso: um sonho.