A JOGAR FORA - Um artigo de opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 Correu bem a cerimónia de apresentação de João Noronha Lopes, uma competentíssima operação de marketing eleitoral: aberta aos Benfiquistas, teve enorme capacidade de mobilização, o candidato apresentou-se enérgico, entusiástico e inspirado, com um discurso bem alinhado e temporizado, cheio de chavões críticos bem escolhidos e bem enunciados, plateia ao rubro, fervor Benfiquista a tomar conta de uma sala ampla e a rebentar pelas costuras. A fasquia ficou alta, muito alta, para quem vier a seguir.
2 O Benfica não precisa, porém, de eventos espetaculares, o Benfica precisa como de pão para a boca de projetos credíveis e de equipas de qualidade para os operacionalizar. Acontece que não vislumbrei nas várias intervenções de Noronha Lopes ocorridas esta semana a indicação de uma pessoa ou de uma ideia para solucionar ao menos algum dos problemas que pertinentemente levantou. Tem quatro meses para o fazer, é verdade, mas de um candidato que se afirmou pronto para eleições eu esperava muito mais.
3 Há muito que defendo – neste espaço, nos programas do canal V+, nas redes sociais também – que as eleições devem ter lugar em data que permita à direção vencedora assumir funções a 1 de julho. Custa-me a compreender que uma questão de tamanha importância tenha passado ao lado da tão festejada – e esmagadoramente aprovada – revisão estatutária e seja agora reclamada por quem tanto nela, na revisão estatutária, se empenhou.
4 Infelizmente, ao exigir publicamente eleições antecipadas Noronha Lopes deixou Rui Costa na posição de não as poder aceitar, sob pena de passar por ceder às exigências de um candidato, o que é inadmissível para quem está no papel de incumbente.
5 Noronha Lopes deu o pontapé de saída, outros candidatos já se anunciaram, alguns outros se preparam para eventualmente o fazer. Vamos andar quatro meses em campanha eleitoral?
6 As assembleias gerais dos clubes, especialmente as do meu, estão transformadas em palcos de luta política, ganha quem for capaz de mobilizar mais apaniguados, tudo isto com maior ou menor agressividade em função do desempenho desportivo da principal equipa de futebol. A estrondosa derrota da atual direção na votação de ontem deve, não obstante, ser interpretada como uma verdadeira moção de censura à deficiente governação do clube.
7 Com o Mundial de Clubes pela frente e as eliminatórias de apuramento para a fase de liga da Champions logo a seguir, Rui Costa terá que ser sublimemente competente na programação da época e na gestão desportiva da equipa para evitar um não apuramento para a prova milionária, algo que provocaria um terramoto financeiro de grau dez no clube.
8 Soube-se esta semana que as justiças desportiva e civil concluíram que relativamente à alegada tentativa de aliciamento de jogadores do Rio Ave para perder com o Benfica na época 2016/17 “não existiu qualquer pedido, proposta ou oferta concreta, nada que possa suportar uma acusação”. Lembram-se do alarido que esta alegada batota provocou na comunicação social daquela época? Querem por favor comparar com a forma como agora miseravelmente trataram o seu arquivamento?