SENADO - Um artigo de opinião de José Eduardo Simões
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Depois de uma semana de informação aterradora sobre as finanças dos catalães e a gestão da última década, ficámos a saber que o Barcelona terá dívidas acumuladas de 1,3 mil milhões de euros e que precisa de contrair rapidamente empréstimo de cerca de 600 milhões para resolver as questões mais urgentes.
Pode-se dizer que um clube de futebol é uma empresa especial nos conteúdos, mas idêntica na forma e nos propósitos de outra empresa qualquer.
Tal significa, números redondos, que o clube apresenta uma relação dívida/orçamento anual entre 150 e 160%, valor não muito diferente da dívida pública portuguesa em relação ao PIB. Se um País assume bancarrota e é obrigado a pedir ajuda externa, porque não no Barcelona? Com cortes de salários e outros custos fixos e de serviços externos para metade, e a imposição de limites para assumir novas obrigações nomeadamente na aquisição de jogadores (com passes), o Barcelona voltaria aos lucros anuais e libertaria meios para ir pagando a estratosférica dívida. E talvez continuasse a ganhar.
Pode-se dizer que um clube de futebol é uma empresa especial nos conteúdos, mas idêntica na forma e nos propósitos de outra empresa qualquer. Compra e vende "produtos", tem receitas de bilheteiras, TV, publicidade, marketing, merchandising, e despesas. Tem activos, sejam bens imóveis e outros tangíveis ou intangíveis. Deve dar lucro e se mostrar que não é viável deve ser declarado insolvente ou ser extinta. Pode ter anos maus, mas em menor número que os anos bons e ser cobertos pelas reservas dos períodos com lucro.
Em certo sentido, o Barcelona é algo semelhante ao caso de Vieira, cujo aglomerado de empresas, de construção para venda de imóveis residenciais, para comércio e serviços, de hotelaria e outros fins, passou por períodos de euforia e lucros excepcionais que escondiam a verdade: o dinheiro "original" que permitia as compras de terrenos e a construção de imóveis provinha de empréstimos e financiamentos bancários que eram saldados pelas vendas. Com a bancarrota de Sócrates e a sequência de falências de BES/GES/ESA, BPP, BPN/SLN e outros, mais as enormes dificuldades financeiras de BCP e CGD, deixou de circular dinheiro a rodos pela economia e a procura de imobiliário encolheu. Sem crédito para construir ou concluir operações em curso e, portanto, sem poder vender, como pagar as dívidas colossais?
Já Berardo é caso diferente pois em toda a vida como "empresário" não se conclui que tenha produzido o que quer que fosse, obtendo a sua fortuna adquirindo e vendendo posições em empresas com obtenção de mais-valias. Ou seja, aquilo que correntemente se designa especulação financeira pura. Tudo corria bem até que um qualquer "Pinóquio" terá sussurrado ao ouvido que lhe seriam emprestados mil milhões de euros para passar a ser acionista de referência do BCP e apoiar a facção que queria, e conseguiu, por fim ao reinado de Jardim Gonçalves. Facção que conseguiu o feito de destruir o valor desse banco, pois as acções que antes valiam mil milhões passaram a valer 25 vezes menos. É obra!
Diferenças? O Barcelona tem meios para ir pagando o que deve. Vai custar muito (a saída de Messi, nada fácil de engolir, é apenas o início), mas o clube da Catalunha tem viabilidade pois as receitas são elevadas e contínuas. Vieira já afirmou que não possui meios para solver a dívida de 160 milhões, uma das várias que as suas empresas contraíram. Mas tem activos e vai entregá-los aos credores e aí pelo menos há a possibilidade de recuperar parte ou a totalidade dos valores emprestados. E Berardo? É minha convicção que será carne de pescoço e continuaremos, todos nós contribuintes, a pagar pelos desvarios e falta de princípios e ética dos grandes responsáveis por estas situações - os "banqueiros" DDT que emprestavam a amigos (e a eles próprios) sem receber garantias reais desses saques. Assim é fácil viver...