Enquanto treinador, terei falhado, como todos, em muitos aspetos, mas aquele que tenho efetiva consciência foi o pouco trabalho que fiz de treino específico guarda-redes.
Dia 18 foi o dia nacional do guarda-redes e, nem a propósito, estava a escrever sobre eles. Enquanto treinador, terei falhado, como todos, em muitos aspetos, mas aquele que tenho efetiva consciência foi o pouco trabalho que fiz de treino específico guarda-redes. Sou, por isso, de alguma forma, um dos muitos responsáveis pelo momento delicado a que chegamos, com o não aparecimento de uma nova geração de bons guarda-redes nas principais equipas.
Uma das principais razões desta não renovação é a falta de espaço que os jovens têm para iniciarem a carreira, uma vez que nas seis principais equipas há seis guarda redes estrangeiros, e os portugueses, apesar de estarem próximo do final da carreira, têm um rendimento e uma experiência que faz com que qualquer treinador não abdique deles.
Vejamos, no Sporting temos três guarda redes de muita qualidade, estrangeiros; no FC Porto temos um guardião naturalizado, um estrangeiro e o Hugo Laurentino que está com 34 anos. No Benfica temos um guarda-redes estrangeiro com 36 anos e o Hugo Figueira com 39. No ABC temos o Humberto Gomes com 40 anos - faz 41 a 1 de janeiro No Aguas Santas temos António Campos, que dia 26 faz 39 anos, e no Madeira SAD , temos Ferra também com 39.
Os principais guarda-redes portugueses, Humberto Gomes, Hugo Laurentino, Hugo Figueira e António Campos, estão com uma média de idade de 38,25, e terão que jogar mais dois/três anos e, não fosse a naturalização do Alfredo Quintana, teríamos um problema a curto prazo na Seleção nacional.
Não estamos a conseguir formar guarda-redes para o futuro correndo o risco de aumentarmos ainda mais a nossa dependência de guarda-redes estrangeiros. Conheço, neste momento, três treinadores que têm provas dadas neste tipo de trabalho especifico, e que podem, de alguma forma, mudar este rumo, e cuja opinião pode e deve ser consultada como especialistas que são, como faz qualquer empresa quando quer melhorar.
Carlos Ferreira (ABC), Telmo Ferreira (FC Porto) e Paulo Sá são os técnicos a que me refiro.
Foi no Águas Santas que terei dado um dos poucos contributos nesta matéria como treinador, ao promover a criação de uma escola de guarda-redes, que o Telmo Ferreira desenvolveu com muito mérito e competência, o que, eventualmente, o ajudou a ser reconhecido pelo FC Porto. Penso que é uma escola que estava a funcionar muito bem que devia ser retomada e alargada.
Carlos Ferreira, talvez o melhor treinador de guarda-redes de andebol em Portugal, infelizmente está a trabalhar só no clube e por isso reduz muito a possibilidade de sucesso. Poderia, igualmente, criar uma escola de guarda-redes para a zona Norte e clubes como ABC, Fermentões, Fafe, Xico etc, teriam muito a ganhar.
Paulo Sá, um professor que dispensa apresentações, será com o trabalho prático e o trabalho académico aquele que mais aprofundou cientificamente o treino específico de guarda-redes de andebol em Portugal. Tem o perfil e competência para ser o coordenador nacional nesta área e inverter esta tendência. O seu trabalho deve chegar com influencia aos clubes, ficando todos a ganhar. A convocatória de Capdeville, do Madeira SAD, e Diogo Valério, do Boa Boa Hora, para se juntarem ao Alfredo Quintana no próximo estágio da seleção por parte do Selecionador Nacional, professor Paulo Jorge Pereira, não só é útil e inteligente, como é absolutamente necessária. Conhecendo o perfil do selecionador, tenho a certeza que esta opção não é ingénua, mesmo ele sabendo que o rendimento de Humberto Gomes ou Hugo Figueira ainda é superior ao destes dois jovens guarda redes.
