VELUDO AZUL - Uma opinião de Miguel Guedes
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Agora que se confirma que ser campeão na Luz não é para todos, resta-nos honrar mais do que as boas memórias e responder ao presente. Ainda há bem poucos anos transportávamos no regaço todos os títulos nacionais, sem exceção. Agora, como no ano passado, remetidos para a luta do terceiro lugar, teremos que encontrar a ambição que deixámos perdida em hesitações sem sentido, não fossem suficientes as mudanças de paradigma que a ampla maioria dos sócios exigiu. Hoje à noite, sabedores do resultado do Braga no Municipal de Rio Maior, o FC Porto sabe bem do grau de exigência do jogo que terá pela frente no Bessa. Não só o Boavista continua ligado às linhas de vida do campeonato, como o Braga não deixará de fazer tudo frente a um Benfica que, não dependendo só de si, dificilmente entrará psicologicamente feliz e em uníssono para atacar um título que parece ter via verde. A derrota do Braga frente ao Casa Pia não torna a nossa tarefa necessariamente mais fácil.
A força coletiva de uma equipa como o FC Porto vai escrever-se pelo que há-de vir, mas tem que ganhar presença no momento. É indisfarçável o sentimento e abalo que trespassa o portismo, mesmo num ano de transição, demasiadamente cedo afastados de tudo. A vontade férrea de ganhar tem que se conquistar pela capacidade, noção e personalidade de jogo, mas momentos houve onde se sentiu que a equipa já não lutava por um objetivo, nem tão-pouco por uma miragem. E se nem sempre se sentiu que os jogadores tiravam o pé, também é verdade que dois pés não chegam para jogar frente a este Boavista e nestas condições. Para além do futebol, exige-se o apelo à raça e à vontade indómita de vencer e resolver quase tudo o que falta. Para o Boavista, carente de pontos, o empate até pode ser interessante. Em versão azul e branca, o que falta do que resta, não pode ser construído a pés de lã.
Face ao sortilégio da final da Liga Conferência, e independentemente do momento, é quase certo o apuramento para a Liga Europa sem ter que passar por eliminatórias que nos retirariam a pausa competitiva necessária para abordar a nova época com escolhas e critério. Olhar para os dois jogos que restam e para o Mundial de Clubes como uma oportunidade de pré-época até pode ser um erro. Mas perante tanta deceção, que façamos deste final um simulacro de recomeço que nos faça acreditar na inversão da tragédia. Hoje, no Bessa, há muita gente a ter uma palavra quase final.