PLANETA DO FUTEBOL - A análise de Luís Freitas Lobo.
Corpo do artigo
1 - Num duelo pelo título tão apertado a dois, os vasos comunicantes entre as duas equipas são diretos: os pontos altos de um coincidem com os baixos do outro. Foi o que sucedeu na relação FC Porto-Benfica.
12412928
A superioridade portista está fixada no superior rendimento/concentração competitivo. O Benfica baixou até perder-se quando percebeu que era, sobretudo, uma soma de individualidades e que as melhores (que tinham ganho o título passado) já lá não estavam. As consequências foram, subitamente, demolidoras para uma equipa sem capacidade de pensar tacticamente de forma diferente.
Dos 25 pontos que o Benfica de Lage perdeu, 22 foram após a derrota no Dragão (o epicentro do terramoto) onde entrara, à 20.ª jornada, com sete pontos de avanço. Dezoito jogos depois de colocar o lugar à disposição após perder a Taça da Liga em Braga, Conceição está a um ponto de tornar o seu FC Porto campeão. Só os insondáveis desígnios do futebol podem provocar estes contrastes em tão pouco tempo.
2 - Debater a qualidade de jogo destas equipas não se trata de tirar mérito a quem ganha, até porque, mesmo neste cenário, a diferença pontual cavada para as outras formações é enorme. Trata-se de perceber exatamente em que ponto da história estamos em termos de nível exibicional (entenda-se capacidade de colocar em prática um futebol que perdure na memória para além dos simples registos).
Ao escolher o adjetivo como a "mais compacta" do campeonato para definir um traço decisivo da sua equipa capaz de marcar a diferença, Conceição mostra que está consciente disso. Este não é um título conquistado com o estilo mais deslumbrante. É, no entanto, tal como o anterior de 17/18, historicamente dos mais importantes conquistados pelo FC Porto, porque surge numa altura adversa, em que o clube sofre financeiramente, e mata (com dois triunfos em três épocas) o mito da nova hegemonia encarnada.
O campeonato partido em dois: como o curso da história mudou a meio da época através do impacto de ser (ou não) uma "equipa de treinador"
3 - O brilho de jogo com Marega, Soares e Otávio é, obviamente, menor do que o atingido por Hulk, James e Falcão (como não podia ser, tal o abismo que separa este trio de jogadores e diferentes onzes em possível comparação?).
Uma chamada "equipa de treinador" é, porém, muito mais esta de Conceição (que reinventou jogadores descartados ou perdidos para potenciá-los ao seu estilo compacto, forte e veloz) do que a dos seus antecessores campeões (com onzes repletos de craques).
Talvez nenhum destes atuais jogadores campeões tenha lugar de destaque no museu, mas a verdade é que foram eles que conquistaram os campeonatos mais importantes, desde a revolução de finais dos anos 70. Porque, novamente, agora, nos tempos modernos, voltaram a travar o curso da história.