É preciso existir um critério coletivo adequado para a individualidade.
Corpo do artigo
1 - Para se ver um jogador de verdade é preciso saber explorá-lo e sentir onde ele se distingue dos demais. O diferente nível de rendimento do Bruno Fernandes de Manchester e o da Seleção quase se tornou um enigma. Por isso, o jogo no Azerbaijão, descontando o valor do adversário, foi como uma descoberta do mais básico.
Ou seja, é preciso existir um critério coletivo adequado para a individualidade poder fazer sempre o máximo que se espera (e até, talvez mais importante, ter margem de manobra para fazer o inesperado e, nessa soma, marcar a diferença no jogo). Bruno Fernandes só pode expressar esse seu futebol se tornado protagonista da equipa.
O 4x3x3 de Baku, com Moutinho a fazer o "trabalho sujo" , entenda-se pressão-recuperação, do meio-campo, e André Silva como um atento mas discreto n.º 9 que não devora a equipa a pedir que lhe metam a bola, mostrou esse comprometimento coletivo-individualidade.
Tudo isto tem de ser possível também com Ronaldo em campo. Não quero ter esse problema mais perturbador porque quero que ganhe Portugal, mas não quero perder Bruno Fernandes (nem Bernardo Silva, nem André Silva, nem Jota, nem...)
2 - A primeira tentação ofensiva de Fernando Santos tem um nome próprio. Do Europeu a estes últimos jogos do apuramento. Chama-se Rafa. É, porém, uma tentação que, após ceder a ela lançando-o de início nos primeiros jogos, não resiste muito tempo e acaba por, após intervalo ou pouco mais, o tirar e não a voltar a sentir. O problema não está, claro, na tentação por si só. Está na falta de sustentação racional para lhe ceder e metê-lo na equipa.
Não sou dos que dizem que Rafa é apenas um "jogador de espaços livres" e que sem estes perde o seu poder de impacto no jogo. Claro que rende mais assim embalado desde trás, mas o seu jogo é muito mais do que corridas de 100 metros. O seu jogo é, se metido numa conceção coletiva que lhe permita acelerar, parar e passar no momento certo, sempre diferenciador. Por isso, são tão importantes os omnipresentes treinos em espaços reduzidos.
3 - Se os treinadores querem que os jogadores arrisquem mais, criem-lhe condições para isso dentro da sua própria equipa. E Rafa é isso, um jogador para correr riscos. Não adianta só gritarem-lhe "mais rápido" quando o necessário é o ritmo certo de correr e passar. O jogo, afinal.
Bernardo Silva é um caso desses (com a agravante de lhe gritarem para ser mais rápido a correr... atrás do adversário). Não admira que, assim, no fim da maioria dos seus jogos na Seleção, se desvalorize a sua exibição e as mais elementares bases da utilização do talento acabem confundidas. Ainda há normas, escritas ou não, que quem as explica melhor são os jogadores, intuitivamente.
Fechado o mercado, planteis estabilizados, começa verdadeiramente o campeonato. Por fim, deixo de ter a sensação que durou quatro jornadas de gritar interiormente "deixem os jogadores em paz". O que os treinadores pretendem terá, por fim, a força das ideias como lei. Sem jogadores condicionados na cabeça.
Neste arranque de época, talvez nenhum outro como Corona sentiu tanto isso. Esteve (quase) vendido, ficou no banco, entrou minutos apenas, mas via-se que estava com a cabeça noutro lugar. O trabalho de Conceição é agora, mais do que tático, de reinventar a motivação do jogador. Não é fácil, de um momento para outro, fazer esse "reset" na forma e cabeça competitiva dum jogador que entretanto fora embora sem, em rigor, nunca ter saído do sítio. É o que faz este autêntico "buraco negro" de mercado em plena competição. Em breve, teremos outro, em Janeiro, no inverno do campeonato.
O futebol: animal pré-histórico
Fechado o mercado, planteis estabilizados, começa verdadeiramente o campeonato. Por fim, deixo de ter a sensação que durou quatro jornadas de gritar interiormente "deixem os jogadores em paz". O que os treinadores pretendem terá, por fim, a força das ideias como lei. Sem jogadores condicionados na cabeça.
Neste arranque de época, talvez nenhum outro como Corona sentiu tanto isso. Esteve (quase) vendido, ficou no banco, entrou minutos apenas, mas via-se que estava com a cabeça noutro lugar. O trabalho de Conceição é agora, mais do que tático, de reinventar a motivação do jogador. Não é fácil, de um momento para outro, fazer esse "reset" na forma e cabeça competitiva dum jogador que entretanto fora embora sem, em rigor, nunca ter saído do sítio. É o que faz este autêntico "buraco negro" de mercado em plena competição. Em breve, teremos outro, em Janeiro, no inverno do campeonato.
Por fim, deixo a sensação do grito interior: "Deixem os jogadores em paz!"
Os clubes podem precisar deste dinheiro para se moverem, mas entretanto o futebol vive aprisionado e o jogo das equipas (e dos jogadores) perde lógica de construção. Sem direito, mudaram as bases da competição em nome do negócio. Não é um pecado original mas, cada vez mais, ele torna o verdadeiro futebol num animal pré-histórico. Até se extinguir.