PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro.
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Vivem-se tempos de sombra, pelos lados da cidade augusta. Esta poderia ser uma frase de um daqueles romances de ficção fantástica, ao estilo do Senhor dos Anéis ou da Roda do Tempo.
A ideia de que uma espécie de sombra caiu sobre a equipa de futebol do SC Braga, tolhendo os seus movimentos, as suas decisões e as suas ações, dá uma dimensão literária àquela que é, indiscutivelmente, a pior fase da presente época e para a qual só podemos almejar com a máxima que se tornou comum neste período sombrio da nossa existência pandémica: "vai ficar tudo bem".
Creia-me, caro leitor, que este vosso humilde escriba não encontra as palavras adequadas para expressar o que sentiu após a derrota humilhante frente ao Boavista, que ditou o afastamento de mais um dos nossos objetivos confessos. Por isso as procurou nos fóruns e redes sociais. Algumas das palavras e expressões utilizadas pelos adeptos bracarenses frequentadores destes espaços de convívio virtual foram: "enxaqueca", "atropelamento e fuga", "vergonhoso", "mistério", "metam a equipa B", "inexplicável" e outras que tais.
Sabemos que - e Carvalhal referiu-o por algumas vezes - uma das matérias da presente temporada sempre foi a gestão das expectativas dos adeptos, face à época anterior, que foi muito boa. Mas a derrota de quinta-feira vai muito para além da racionalidade da gestão das expectativas. Trata-se, agora, de pura emotividade. O jogo foi mesmo muito mau e o próprio treinador estava incrédulo, no final, não conseguindo - como eu neste texto - encontrar as palavras para descrever o sucedido. Se a isto somarmos o "empate-com-sabor-a-derrota" frente aos sérvios do Estrela Vermelha e a derrota no Dragão frente ao FC Porto (num jogo que, apesar de tudo, deu bons indicadores sobre o futuro da equipa, ao terminarmos o jogo com oito jogadores muito jovens ), temos quase criadas as condições para uma tempestade perfeita, um possível tornado de emoções, de decisões e de reações que só poderá ser evitado com uma vitória no jogo de hoje, frente ao Belenenses. António Salvador, que é, claro, adepto, mas também é o gestor, o condutor da locomotiva, terá que ter a frieza e a racionalidade para perceber que o futebol é mesmo assim, tem altos e baixos, jogos que ficam na memória, pelas melhores e pelas piores razões. Avaliar a situação pelo seu todo impõe-se, neste momento.
Defendemos o quarto lugar no campeonato (que é, esse sim, um objetivo mínimo para a presente época) e defendemos o título na Taça de Portugal. Não podemos deixar que a sombra da estrondosa derrota nos impeça de ver as coisas boas que ainda podemos fazer nesta época. Mas, para isso, é mesmo necessário reagir já hoje, e deixar o sol passar de novo, afastando as nuvens negras que ainda cobrem o céu do nosso clube.